Os rapazes também podem ter o período


PEDRO MORAIS VAZ    OBSERVADOR    23.12.2018
Começam a surgir pessoas que exigem o reconhecimento de que têm menos anos de idade, de que são de outra cor ou raça, de outra espécie ou até um misto disto. É a vontade a prevalecer sobre a realidade
É verdade: os rapazes também podem ter o “período” (perdoem-me a entrada, mas é exatamente este o título da notícia do The Telegraph). É isto que vai começar a ser ensinado a algumas crianças inglesas de Brighton & Hove, de acordo com o jornal britânico. O objetivo é, claro está, assegurar que também a menstruação é inclusiva e que ninguém se sente discriminado em função do seu género. Por isso, entre outras coisas, todas as casas de banho de crianças passarão a ter caixotes destinados a produtos de menstruação.
Está o leitor surpreendido? Não esteja. Isto é apenas mais um exemplo das muitas maravilhas que os camarados da ideologia de género têm produzido. As bandeiras da “inclusão”, da “não discriminação”, da “igualdade” e da “tolerância” têm servido de pretexto para tudo. Imagine o leitor que, recentemente, naquele mesmo país, um violador (Karen White) de declarou trans e exigiu, em sede de julgamento, ser enviado para uma prisão de mulheres – pedido a que o juiz acedeu, certamente para não ferir aqueles nobres valores. Consegue imaginar o resultado? Surpreendentemente, e contra tudo o que se podia esperar, Karen White acabou por… violar outras mulheres.
Nesta deriva de total desfasamento da realidade, e seguindo exatamente a mesma lógica dos defensores da ideologia de género, começam agora a surgir casos de pessoas que exigem o reconhecimento de que têm menos anos de idade (veja-se o caso de Emile Ratelband), de que são de outra cor ou raça (os chamados transraciais, como Rachel Dolezal), de outra espécie (Tony McGinn, por exemplo, nasceu mulher, mas agora é um homem transgénero que se identifica como um cão) ou até um misto disto (Stefonknee Wolscht decidiu abandonar a mulher e os sete filhos para começar uma vida nova, na qualidade de uma menina de 6 anos). O princípio é exatamente o mesmo: se os fatores psicológicos e culturais se sobrepõem aos biológicos, se a vontade prevalece sobre a realidade, então não há por que negar os direitos destas pessoas (a menos que sejamos “intolerantes”, “misóginos”, “fascistas” e afins).
No caso da ideologia de género, é preciso recordar que este desfasamento da realidade não é inocente, escondendo um propósito político muito claro (que, infelizmente, a maioria dos seus advogados desconhece): destruir a sociedade “patriarcal” em que vivemos. Assumindo que “o primeiro antagonismo de classe que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia e a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino pelo sexo masculino” (Engels, A Origem da Família, Propriedade Privada e Estado) e que “a família patriarcal é a estrutura e o sustento ideológico de todas as ordens sociais baseadas no princípio do autoritarismo” (Wilhelm Reich, A Revolução Sexual), os arautos do progresso sugerem-nos (i) substituir a prisão do “sexo” pela autodeterminação de “género”; e (ii) instalar o caos na sociedade, através da multiplicação e desvirtuação de géneros [imagine o leitor que uma pessoa que criasse uma conta no Facebook em 2014 já podia escolher entre 71 géneros, entre eles “género-fluído” (uma pessoa cujo género não é fixo) ou “poligénero” (uma pessoa que se identifica com vários géneros, normalmente quatro ou mais)]. Se isto lhe cheira a teoria da conspiração, então olhe para o livroProblemas de Género: Feminismos e subversão de identidades, no qual a famosa filósofa Judith Butler se propõe responder, cristalinamente: “Qual a melhor forma de abalar as categorias de género que suportam a hierarquia de género e a obrigatoriedade da heterossexualidade?“.
Poderíamos então definir a ideologia de género, recorrendo às palavras do argentino Agustín Laje, como “um conjunto de ideias anti-científicas que, com propósitos políticos, extirpa a sexualidade humana da sua realidade natural e a explica somente pela cultura“. É por tudo isto que não devemos estranhar que os rapazes possam ter o período, assim como não devemos estranhar que, amanhã, nos venham explicar que os homens também podem dar de mamar. Para fazer valer esta agenda perversa, todos passam a ter direito não apenas à própria opinião, mas também aos próprios factos; a natureza, a biologia e a realidade são apenas um pormenor de circunstância.

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