Sentir e consentir

José Luís Nunes Martins
ionline em 14 Jun 2014 - 05:00

Cada um de nós é a linha que vai do que sente ao que faz e que passa pelo que pensa e diz... somos o que escolhermos sentir, pensar, dizer e fazer. Somos querer
Não podemos controlar o que sentimos, mas cabe-nos, sempre, escolher entre consenti-lo ou afastá-lo. Não controlamos tudo o que pensamos, mas cabe-nos a responsabilidade de escolher. Nem sempre optamos por dizer ou calar o que é melhor, mas, apesar de tudo, é essencial traçar a linha que separa o que queremos do que não queremos ser...
Já o que fazemos (e o que não fazemos) depende, quase na totalidade, da nossa vontade. Devemos pois ordenar o que sentimos com vista a definirmos quem somos e quem queremos ser, a fim de agir de acordo, sem grandes desculpas, mentiras ou promessas vãs.
Cada um de nós é a linha que vai do que sente ao que faz e que passa pelo que pensa e diz...  somos o que escolhermos sentir, pensar, dizer e fazer. Somos querer.
A verticalidade de um homem depende da forma como assume o que sente, da profundidade com que pensa, da verdade do que diz e do valor absoluto das suas ações. E, claro, da harmonia que consegue entre estas suas quatro dimensões.
Há muita gente desafinada... perdem-se apesar de alguns acharem que assim conseguirão ultrapassar a verdade. Um dia acordam e compreendem que foram afinal escravos do mundo, quando podiam ter sido senhores do seu destino.
A autoridade é o poder do autor, competindo pois a cada homem dominar-se aos diferentes níveis, ordenando-se em vista do seu maior bem.
Não sou o que sinto, nem o que digo, sou o que quero... e, em última instância, o que escolho fazer, apesar de tudo.
É próprio do homem elevar-se acima da sua condição animal, ponderando e julgando as suas ações. Quem se rende de forma passiva ao que sente, demite-se de ser homem.
Eis a essência da liberdade: uma vontade esclarecida.
A espontaneidade dos instintos é algo primário, os apetites são desejos mas não são vontades, apesar do engano que a linguagem induz. Apetites são tendências naturais básicas que correspondem a desequilíbrios e necessidades primitivas que, apesar de tudo, pode a vontade humana ultrapassar. Os instintos são bons, desde que ordenados.
Como posso chegar a ser quem quero? Através do domínio do que consinto, penso, digo e... faço.
Não é bom ser-se uma solidão cheia de amor. Deve fazer-se com que essa vontade se faça real, se pratique, chegue ao mundo concreto e o enriqueça. Claro, importa analisar e avaliar muito bem o que nos rodeia, não vá abraçar-se alguém errado... é verdade que temos amor e braços para dar, mas temos também olhos e inteligência para escolher a quem devem chegar.
Se há momentos maus na vida em que parece nada haver que nos anime, será desses, mais do que em quaisquer outros, que é mais importante sair... buscar o  melhor com todas as forças, contra todas as evidências. Mais determinante que as circunstâncias será sempre a vontade íntima de se ser feliz. As tristezas não podem evitar-se... são tempos de extrema verdade e dor, mas são momentos... a que devem suceder outros momentos. Numa linha em que o querer impera... apesar de tudo.
Tudo tem o seu tempo, tudo pode funcionar em harmonia. Assim haja boa vontade.
Quando andamos, um pé fica para que o outro voe para diante. Importa aceitar que seguir para a frente não é negar o que fica para trás, mas antes fazê-lo parte de algo maior que o momento, maior que o tempo...
Desilude-se quem nesta vida julga que a luta acaba depois de uma batalha. Sempre haverá mais batalhas, mais feridas, talvez ainda mais profundas, mas também mais conquistas, mais alegrias e sempre, sempre, mais vida... para continuar a lutar. Assim haja querer, para caminhar rumo ao melhor de nós.

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