Francisco Fernando e Sofia

Estado Sentido  | Nuno Castelo-Branco, em 28.06.14

O arquiduque Francisco Fernando era uma personalidade pouco estimada numa Viena muito ciosa do status quo instaurado pelo Compromisso austro-húngaro de 1867. Detestado pelos mais acérrimos nacionalistas austro-alemães e húngaros, o indigitado sucessor do Kaiser Francisco José I representava a inevitabilidade de profundas modificações na estrutura do grande império da Europa central. Julgava imperioso conceder um estatuto paritário aos eslavos da dupla Monarquia e mesmo na sua vida pessoal, desafiara abertamente as regras dinásticas, casando-se com Sofia Chotek, uma aristocrata checa.

A visita a Sarajevo consistia num daqueles rotineiros acontecimentos que marcavam o exercício da soberania. Bem ao contrário daquilo que os mais eslavófilos querem fazer crer, aquele mortal inimigo  que não desejavam ver no trono da Áustria-Húngria, consistia num não menos mortal perigo para as ambições expansionistas dos radicais nacionalistas sérvios que viriam a tornar-se tristemente célebres ao longo de todo o século XX. 

Esta manhã, os nostálgicos da terrorista Narodna Obrana - a correspondente à Carbonária que por cá tivemos - inauguraram uma estátua a Gavrilo Princip, num daqueles actos de evidente homenagem ao aborto estatal que durante algumas décadas se chamou Jugoslávia. Cada um tem o Buíça que merece e se o do extremo ocidental europeu abriria o caminho a uma república sangrenta e inepta, a uma longa ditadura e às consequências que conhecemos e ainda sofremos, o jovem Gavrilo bem pode ser considerado como a espoleta da granada que transformou a Europa num destruidor inferno. Aqueles tiros desferidos na manhã de 28 de Junho de 1914, soaram a dobre de finados do Velho Continente. 

Como dizia hoje um indignado habitante de Serajevo a repórteres da televisão, os Balcãs continuarão a ser aquilo que sempre foram, um violento tugúrio de loucos. 

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