2011.10.12 homilia de Dom Paolo Pezzi na Peregrinação Internacional de Outubro ao Santuário de Fátima

2011.10.12 homilia – Peregrinação ao Santuário de Fátima
(1Rs 8,22-23.27-30; Eb 10,5-7; Jo 2,13-22)
Excelência reverendíssima Dom António [Augusto dos Santos] Marto,
bispo de Leiria-Fatima!
[Excelências reverendíssimas!]
Caros irmãos no sacerdócio!
Caros irmãos e irmãs!
A primeira leitura da liturgia de hoje, festa da Dedicação da Basílica do Santuário de Fátima põe em evidência o encanto repleto de gratidão de Salomão. Ele está encantado e grato  porque Deus veio habitar no meio do Seu povo, porque está presente e age na vida do rei Salomão e do seu povo. Deus cumpriu a promessa que tinha feito a David, seu pai: a promessa de construir um templo, um lugar que seja sinal permanente da presença constante de Deus connosco. O Salmo 132 exprime o mesmo encanto, acrescentando um pormenor comovente: “o Senhor edificou uma morada e nesta morada encontra repouso”. Sim, apenas quando o Senhor encontra finalmente um lugar onde habitar no meio de nós, só então encontra repouso! Pois desde sempre Ele deseja habitar connosco!
Ao mesmo tempo, o templo de Salomão não é o lugar do definitivo repouso de Deus. É mais uma etapa. O Senhor não encontra o seu verdadeiro, definitivo repouso em templos de pedra. O templo de Salomão, de facto, seria destruído e depois reedificado por duas vezes, quase a dizer a inexorável, triste fragilidade de tudo aquilo que o homem constrói com a arte das próprias mãos, mesmo quando a sua finalidade é a glória de Deus. O poder deste mundo, de facto, odeia tudo aquilo que dá glória a Deus, que chama novamente os homens à sua presença. E odeia, por isso, sempre a beleza do templo, que desta Presença é o sinal visível.
Sim, caros amigos, não precisamos de voltar a Nabucodonosor para ter esta confirmação amarga. Também a nossa história recente é marcada pela dolorosa destruição dos templos de pedra, das igrejas. Quantas igrejas foram destruídas na Rússia no século passado, tornando invisível a humanidade nova que nasce da fé, com o único objectivo  de eliminar aquela beleza que com a sua presença atrai os homens para Deus! E quantas devem ser ainda reconstruídas!
De certa forma, a própria história de Israel, tão marcada  pela oscilação entre destruições e reconstruções, é uma história que continua na história do Israel de Deus até ao fim dos tempos.
Ao mesmo tempo, porém, aconteceu algo de novo. Deus encontrou finalmente o repouso, pois construiu-se um templo que não pode ser destruído, um templo «não construído por mãos humanas», um templo que não é de pedra. E este templo indestrutível em que Deus habita é o corpo de Cristo Ressuscitado: Ele mesmo, morto e Ressuscitado, é o templo definitivo, destruído e reedificado para sempre, e deste templo, pela graça, como pedras vivas, tomamos parte também nós. A nossa comunhão em Cristo é então o verdadeiro lugar no qual Deus repousa.  
É o que Jesus sugere no diálogo com a mulher Samaritana. «‘Os nossos pais adoraram a Deus neste monte’, disse a Samaritana a Jesus , ‘vós dizeis que o lugar onde se deve adorar está em Jerusalém’. Jesus declarou-lhe: ‘Mulher, acredita em mim: chegou a hora em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, haveis de adorar o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas chega a hora - e é já - em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende. Deus é espírito; por isso, os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’»  (cfr. Jo 4,20-24).
Em espírito e verdade. Mas o que significa “adorar em verdade”? O mesmo Jesus responde no capítulo 14 do mesmo evangelho: “Eu sou a verdade!”, “Eu sou a morada do Espírito!”. Adorar a Deus na verdade significa adorar a Deus permanecendo em Cristo, o homem novo, o Adão celeste, Aquele que em tudo cumpre a vontade do Pai. Cristo é o Templo da definitiva presença de Deus entre os homens.
Mas então todo o nosso ser deve transformar-se num movimento, cheio de gratidão e encanto, para com ele, para com o Senhor Jesus. A alegria de Salomão ao contemplar a beleza do templo torna-se agora em nós a alegria e a admiração com a beleza de Cristo. O desejo do Salmista de subir ao templo para aí contemplar o rosto de Deus alcança em nós uma desconcertante  concretização: torna-se procura de um rosto humano, torna-se saudade de um Rosto humano no qual se vê o Pai: Jesus.
Já não é o templo de pedra mas a presença do Senhor Jesus que é a fonte da nossa gratidão e do nosso encanto. A intimidade com Ele é o caminho para o Pai, a fonte onde bebemos do Espírito no qual conhecemos, adoramos e oramos ao Pai: “Escuta a súplica do teu servo e do teu povo, Israel, quando aqui rezarem. Ouve-os do alto da tua morada, no céu; ouve-os e perdoa!”  (cfr. 1 Re 8,30).
Sim, o próprio Cristo é o lugar donde se eleva a nossa oração: permanecendo nele, no seu Corpo Vivo, abrimo-nos à verdadeira adoração de Deus Trindade, como canta Santa Catarina: “Ó abismo, ó Trindade eterna, ó Divindade, ó mar profundo! Que mais poderias dar-me do que a ti mesmo? Tu és de novo o fogo que faz desaparecer toda a frieza e iluminas as mentes com a tua luz, com aquela luz com que me fizeste conhecer a verdade” (cfr. S. Catarina da Sena, Diálogo sobre a Divina Providência, 167).
Sim, caros irmãos e irmãs! Quando na nossa vida quotidiana se elimina a adoração, permeada de gratidão e encanto, à Santíssima Trindade, então logo enfraquecem o sentido e o gosto da vida. 
Temos por isso sempre a necessidade de ouvir novamente a viva voz de Cristo para sermos renovados.
Diz Dionísio, o Areopagita: “Quem nos poderá falar do amor ao homem próprio de Cristo, transbordante de paz?”  Quem poderá dar alegria e força aos nossos dias, quem poderá dar conforto na dor que acompanha inevitavelmente a vida? Pois a vida, como diz um grande poeta, em partes iguais de alegrias e sofrimentos é feita. A Voz que faz ressoar o Verbo sempre de novo e em modo novo, a Luz que nos mostra Cristo Vivo e Presente agora, é o próprio Espírito Santo, que é Deus. O Espírito pelo qual o Pai ressuscitou Jesus Cristo dos mortos é o mesmo Espírito que nos faz reconhecer Cristo presente e vivo na fé.
Assim como o Corpo de Cristo é o templo que não pode ser destruído, o dom do Espírito não pode ser detido. Não existe força deste mundo que possa limitar o poder do Espírito. Por isso toda a nossa tarefa, a nossa maior responsabilidade, é a de identificar cada vez mais o nosso respiro com o grito: “Vem, Senhor”, “Vem, Santo Espírito”, como diz a oração do peregrino russo. Assim poderemos chegar a repetir, timidamente mas com sinceridade como nossas, as palavras de São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. E a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (cfr. Gl. 2,20).
Sem o dom do Espírito, o homem nada pode fazer, tudo se esvazia, tudo se torna mentira, tudo se torna triste. Por meio do Espírito, pelo contrário, nós entramos sempre mais no íntimo do coração de Cristo, e assim acolhemos em nós a mesma Comunhão trinitária, conforme a promessa de Jesus aos discípulos: “Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos morada” (cfr Jo 14,23).
Caros irmãos e irmãs! O homem de hoje espera, talvez inconscientemente, a experiência do encontro com pessoas para as quais Cristo é uma realidade tão presente que mudou a vida deles.
Peçamos a Nossa Senhora a graça da conversão ao Seu Filho, peçamos-lhe que converta o nosso olhar a Cristo, que nos atraia uma vez mais para Ele, verdadeira Beleza; peçamos-lhe que nos aproxime sempre mais dele para habitarmos constantemente nele, verdadeiro templo, lugar de toda a paz, conforto, criatividade para a nossa vida e para homens nossos irmãos.
Obra prima da Santíssima Trindade, entre todas as criaturas, é a Virgem Maria: no seu coração humilde e cheio de fé, Deus preparou para si uma digna morada para realizar o mistério da salvação. O Amor divino encontrou nela adesão perfeita e no seu seio o Filho de Deus fez-se homem. Com confiança filial dirijamo-nos a Maria, para que, com a sua ajuda, possamos progredir no amor e fazer da nossa vida um canto de louvor ao Pai por meio do Filho no Espírito Santo.
Fazemo-lo com uma antiga fórmula de oração da tradição da Igreja, que bem exprime o nosso desejo de sermos uma só realidade com seu Filho: Veni Sancte Spiritus, Veni per Mariam.
D. Paolo Pezzi, arcebispo de Moscovo

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