Zita Seabra, JCEspada, Expresso, 070714

Zita Seabra

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A alegria de viver de Zita Seabra é a melhor celebração da liberdade e a mais profunda ruptura com o universo soturno do comunismo

‘Foi Assim’ é o título do livro de Zita Seabra que foi apresentado na semana passada, no Quartel do Carmo perante vasta assistência, por Mário Soares, José Pacheco Pereira e Carlos Gaspar. Foi uma celebração da liberdade.

Zita Seabra conta as suas memórias desde que, aos 15 anos, aderiu ao partido comunista (em 1965) até que deixou a ideologia comunista, em 1989 (tendo sido expulsa em Maio de 1988). A principal mensagem que insiste em transmitir é que, para romper com o comunismo, é preciso compreender que não foi a (má) prática comunista que distorceu os (bons) ideais comunistas. A má prática foi apenas a consequência dos maus ideais.

Qual é a natureza do mal comunista? Vários grandes autores do século XX deram contributos para o definir. Raymond Aron pôs a nu o ópio dos intelectuais, uma ideologia totalizante que recusa ser confrontada com os factos. Karl Popper denunciou o dogmatismo historicista, gerador de um profundo relativismo moral. Friedrich Hayek mostrou como marxismo e nacional-socialismo eram duas expressões de uma mesma atitude intelectual, hostil a uma ordem livre e descentralizada.

Todos eles enfatizaram a hostilidade do comunismo contra os modos de vida espontâneos das pessoas comuns, enraizadas em instituições livres nas quais se sentem confortáveis: a casa própria, a família, a realização profissional, os hóbis, a religião. Estas esferas plurais constituem uma reserva de liberdade contra a vontade política sem entrave. Mas, acima de tudo, elas constituem reservas de felicidade e realização pessoal, independentes da manipulação política.

Em meu entender, foi Michael Oakeshott, o filósofo conservador inglês, quem melhor captou este núcleo central da resistência ao totalitarismo comunista ou nacional-socialista: a disposição para usufruir, para desfrutar, para celebrar um modo de vida que é o nosso e não foi centralmente desenhado. Oakeshott disse residir aqui o segredo da liberdade ocidental.

Não sei se Zita Seabra concordará com Oakeshott. Mas atrevo-me a dizer que ela é o melhor exemplo da tese Oakeshotteana. Ao abandonar o PCP, Zita Seabra teve a audácia de refazer inteiramente a sua vida. Lançou-se na actividade editorial privada, de rara qualidade; preservou a sua vida familiar intacta, longe dos holofotes colectivistas da praça pública (o que, aliás, muito bem faz também no seu livro); refez e ampliou amizades; retomou a acção política no PSD, a tempo parcial; finalmente, fez um percurso privado de aproximação à religião cristã.

Esta alegria de viver e apreciar de Zita Seabra é, em meu entender, a melhor celebração da liberdade e a mais profunda ruptura com o universo soturno do comunismo.

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