O verdadeiro patriotismo

Inês Teotónio Pereira
DN 201607010

O patriotismo dos meus filhos começa quando o árbitro apita o início do jogo, dura 90 minutos e reacende-se no jogo seguinte. É nos jogos da seleção que eles se sentem portugueses. Comovem-se quando os 11 cantam o hino e naquele momento acham mesmo possível marchar contra canhões e sobreviver. Os meus filhos nasceram com Sócrates, cresceram com a troika e agora vivem a amargura da geringonça. Resta-lhes portanto a seleção. Nunca viram outros feitos nacionais que não fossem protagonizados por Ronaldo, Nani ou Quaresma. Pelo contrário. A diáspora portuguesa está em Pepe e em Raphaël Guerreiro. O Portugal deles está aqui condensado: 23 guerreiros e um mister que os leva a uma final europeia. No futebol ombreamos com a França. Tudo o resto são más notícias. Desemprego, dívida, impostos, falências, bancarrota e políticos que confundem o interesse nacional com o interesse do PS ou da CGTP. Para eles patriotismo é torcer pela seleção, buzinar quando Portugal ganha e gritar no meio da rua quando Ronaldo voa. E não podia ser de outra maneira. Cada um dos nossos jogadores tem uma história que retrata o sonho americano em versão portuguesa. São histórias de trabalho, de ambição e de resistência a adversidades. A maioria nasceu em bairros pobres e só com muito sacrifício chegou onde chegou. Com eles o elevador social foi o futebol e funcionou. A pulso. Sem cunhas, sem inscrições em partidos e sem favores autárquicos. Nenhum dos meus filhos se imagina a crescer no Casal Ventoso, sem dinheiro para chuteiras de marca, a sustentar a casa e, ainda assim, conseguir ser um ás na bola, como é Ricardo Quaresma. Os heróis são forjados assim, tal como os exemplos. E em Portugal não há muitos mais. Sim, o nosso dinheiro podia muito bem ser usado para Marcelo ir ver a final a Paris. Já que não podemos ir todos, que vá o Presidente da República em nosso nome e de uma nação inteira aplaudir quem melhor nos representa.

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