A política da ocultação
JOAQUIM AGUIAR | Jornal de negócios | 13 Julho 2016
Não, os portugueses não são vítimas das pressões externas, os portugueses são atraiçoados pelas incompetências internas.
A FRASE...
"Já hoje sofremos sanções e não é pouco. Os juros que pagamos são superiores aos dos outros países. Os investimentos, nacionais e estrangeiros, caíram a pique. Continua a exportação de capitais para países mais seguros e bancos mais honestos."
António Barreto, Diário de Notícias, 10 de Julho de 2016
A ANÁLISE...
Políticos e jornalistas ganharam o hábito, nos últimos tempos, de falar de sanções por défice excessivo na Zona Euro como se fossem punições impostas por torcionários a vítimas inocentes e indefesas, surpreendidas por acontecimentos de que não são responsáveis. Não é objectivamente verdade: os procedimentos acordados por todos os participantes no euro foram concebidos para proteger todos dos potenciais incumprimentos de alguns na utilização de uma moeda que é comum - não há vítimas de um lado e castigadores do outro. Não é subjectivamente verdade: os responsáveis políticos portugueses sabem muito bem que escolheram voluntariamente a via do incumprimento, esperando continuar a beneficiar do endividamento garantido pela integração na Zona Euro.
Dos três partidos que assinaram um compromisso por três anos para beneficiarem de um empréstimo de emergência, aquele que negociou esse compromisso (sem revelar que estava a fazê-lo) retirou-se do esforço do ajustamento, recusou participar em qualquer entendimento durante quatro anos e, contra todas as recomendações dos observadores externos, insistiu sempre que a estratégia adequada, para crescer e corrigir o défice, era diversa daquela que tinha negociado durante os primeiros meses de 2011. Não, os portugueses não são vítimas das pressões externas, os portugueses são atraiçoados pelas incompetências internas.
Os que destruíram os centros de acumulação de capital impuseram os monopólios do Estado ao serviço dos seus funcionários, mergulharam o sistema bancário nos esgotos das imparidades e impõem as políticas distributivas em oposição ao que deviam ser as políticas de promoção da competitividade estão agora no poder. Vão confirmar os sentidos, objectivos e subjectivos, das sanções.
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