Esquerda e o Verão
Luciano Amaral
Correio da manhã | 11.07.2016 01:45
Os portugueses parecem aqueles fulanos a quem deram dois meses de vida.
António Costa deve estar a pensar agora como é bom ter a esquerda (quer dizer, o PCP e o BE) muito caladinha quando se governa. O crescimento da economia tem sido miserável desde que o PS é Governo e, segundo o próprio ministro das Finanças, miserável será no conjunto do ano. Onde estão os intrépidos justiceiros da esquerda (e onde está o PS?) a exigir uma "política de crescimento" contra o "neoliberalismo do equilíbrio orçamental"? Precisamente, o tema dos últimos tempos tem sido, por via da discussão das "sanções", o afinco do Governo em manter as metas orçamentais europeias – e o Governo afirma-se muito respeitador delas. Coisa que o remoçado Sócrates ainda anteontem lamentou. Então António Costa e a esquerda já não querem "bater o pé" à Europa? E tudo isto acontece enquanto se prepara mais uma milionária salvação bancária. É verdade que é do banco público, mas não deixa de ser milionária e, ao que parece, implicará o despedimento (a "rescisão amigável", no jargão "neoliberal") de milhares de trabalhadores. A chinfrineira que não seria se o Governo fosse do PSD e do CDS. Enfim, o maravilhoso "novo tempo" dos inícios da geringonça começa a parecer-se demasiado com o velho. O que vale a Costa é que, ao colaboracionismo neoliberal da esquerda, se junta a carreira da selecção no Campeonato da Europa para manter o povo distraído. À hora a que escrevo, ainda não se sabe o resultado da final, mas mesmo que Portugal perca seguir-se-ão umas semanas de glorificação dos "heróis de França" – imagine-se o que não será se ganhar. E depois há o Verão e a praia. Os portugueses parecem aqueles fulanos a quem deram dois meses de vida e decidem fazer tudo o que não fizeram antes. Que se lixe a crise, que se lixe a Caixa, que se lixe a Europa. Venham o sol e as sardinhas. Acho bem. O resto do ano vai ser duro. Com ou sem cogumelos.
Comentários