So Long, Margarida

Maria José Morgado
Expresso 19.08.2016 às 16h32

A magistrada Maria José Morgado escreve, “com atraso de seis anos”, uma carta a Margarida de Sousa Uva, que morreu quinta-feira, vítima de cancro. “Talvez agora alguém por ti receba este meu longo adeus de saudade e amizade eterna”

Há coisas que só se fazem uma vez na vida, como escrever uma carta com atraso de seis anos, depois de ter sabido da tua morte.
Conheci-te nas lutas estudantis maoístas, éramos duas estudantes radicalizadas pelo desejo fanático de um mundo melhor e eu gostava muito de ti. Acreditávamos no impossível, éramos ridículas, felizes e ninguém ia morrer. Os nossos sonhos eram eternos.
A vida separou-nos, nunca mais falámos, embora eu adivinhasse pelo teu sorriso público que continuavas a mesma. Tive essa confirmação numa longa carta que me escreveste quando o Zé Luís morreu. Uma carta à antiga, daquelas em papel branco com muitas folhas, onde falavas dos tempos antigos. Terminavas a dizer-me que não era para eu responder, era assim um adeus a um velho amigo, de resposta impossível. Quis responder-te muitas vezes, nunca me esqueci da carta e nunca consegui responder. Era aquela história do papel, a dúvida sobre o endereço no envelope, a eternidade dos sentimentos indizíveis, a saudade.
Respondo-te agora, fora do tempo como sempre e sem conseguirmos falar como sempre. Talvez agora alguém por ti receba este meu longo adeus de saudade e amizade eterna.

Margarida Sousa Uva Durão Barroso
(1955-2016)

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