As escolas e os meninos ricos

José António Saraiva | SOL | 20160809

Os colégios particulares, que antes só eram procurados pelos cábulas, começaram a ter a frequência dos melhores alunos.

No tempo de Salazar, não havia praticamente ensino privado.  90% dos estabelecimentos de ensino eram públicos.
Havia meia dúzia de colégios particulares no ensino primário e secundário, mas as universidades eram todas do Estado (a Católica era uma exceção, gozando de um estatuto especial). 
Para muita gente, o ensino particular destinava-se aos cábulas com dinheiro – aqueles meninos filhos de pais ricos que não conseguiam aproveitamento nas escolas públicas e iam para os colégios privados para não chumbarem. 
De certa forma, os privados colaboravam numa fraude.
Os meus pais foram professores no ensino público, e eu sempre frequentei os estabelecimentos do Estado, desde a escola primária, ao liceu e à universidade.
E o mesmo aconteceu com os meus filhos.
Sucede que, de há uns vinte anos para cá, começaram a ouvir-se relatos arrepiantes de situações ocorridas em escolas públicas: perseguições a alunos, agressões a professores, tráfico de drogas, enfim, um cenário de indisciplina generalizada.
E a maior parte das pessoas que eu conhecia começou a pôr os filhos em colégios particulares.
Pessoas ateias puseram filhos em escolas religiosas.
Porquê? 
Porque o ensino era melhor, havia mais segurança e mais disciplina.
E nos rankings isso começou a ser evidente.
Os colégios particulares, que antes só eram procurados pelos cábulas, começaram a ter a frequência dos melhores alunos.
Perante isto, a minha posição em relação ao ensino privado mudou um pouco.
E as recentes medidas do Ministério da Educação provocaram-me mixed feelings.
Por um lado, parece evidente dizer que onde há escolas públicas o Estado não deve financiar escolas privadas.
Mas onde a escola privada for muito melhor, porquê arriscar o encerramento da escola melhor para deixar a pior aberta?
Dir-se-á que o dinheiro que se vai poupar nos cortes de financiamento aos privados permitirá investir mais na escola pública.
Mas alguém acredita nisso?
O que vai acontecer é que acabarão por fechar muitas escolas de qualidade.
Esse será o principal efeito da lei.
E a escola pública continuará exatamente como está – ou seja, na maioria dos casos, muito mal.
E só os meninos ricos poderão continuar a frequentar escolas particulares, porque os outros deixarão de ter acesso a elas.

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