Conveniências e realidades

JOAQUIM AGUIAR 
Jornal de Negócios | 10 Agosto 2016, 19:35

Cinco anos depois, os mesmos que negociaram o anterior programa de ajustamento e depois o repudiaram estão em condições de revelar o que era a alternativa que diziam conhecer.

A FRASE...
"É este o balanço arrasador (e aterrador) do programa de ajustamento português elaborado pela troika e conduzido com zelo e dedicação pelo Governo PSD/CDS."
Nicolau Santos, Expresso 6 de Agosto de 2016

A ANÁLISE...
Cada um pode comentar uma crise, ou as análises de uma crise, escolhendo a perspectiva que lhe parecer mais conveniente. Quando se trata de resolver uma crise, não há conveniências, só conta a realidade efectiva das coisas.
Os que escolheram ignorar os sinais de formação da crise, apesar de serem visíveis durante um prazo muito longo (desde o fim da escala imperial e a destruição dos centros de acumulação de capital com a sua integração no Estado pela via das nacionalizações, até à contracção do crescimento potencial da economia portuguesa e a acumulação de imparidades no sistema bancário), aparecem agora a citar a análise crítica (num relatório com qualidade e utilidade) que foi feita pelo FMI ao programa de ajustamento em que os seus técnicos participaram. Servem-se do FMI porque lhes convém agora, mas essa não foi, e não é, a realidade efectiva das coisas.
Em 2011, o programa para a concessão de um empréstimo de emergência foi negociado pelo Governo português com técnicos de instituições europeias, depois apoiados por técnicos do FMI. Não foi a troika que elaborou o programa de ajustamento português, foi o Governo português em exercício que forneceu os dados, identificou os problemas e negociou os termos do memorando de entendimento. Se depois esse informador, negociador e primeiro signatário do programa de ajustamento, se afastou dos compromissos que tinha negociado, invocando que conhecia uma alternativa, é um facto que pertence ao domínio das conveniências, mas não é a realidade efectiva das coisas.
Cinco anos depois, os mesmos que negociaram o anterior programa de ajustamento e depois o repudiaram estão em condições de revelar o que era a alternativa que diziam conhecer. O FMI vai agradecer este teste em tempo real com uma sociedade real, o que é raro ser autorizado.

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