Férias socialistas

Inês Teotónio Pereira
DN 20160806

Em minha casa, durante as férias, é a rebaldaria total. Não há forma de ser de 
outra maneira: as regras vão de férias para eu poder estar de férias. Não há horas para nada, não se come sopa, anda tudo descalço, as crianças só tomam banho quando lhes apetece ou quando o cabelo fica hirto de tanto sal, a televisão só se apaga quando o último cai para o lado, as refeições são à base de enlatados e eu desconheço qual seja o nível de desarrumação dos quartos, visto que nos últimos dias só tenho entrado no meu. É o caos. E a verdade é que no caos governa-se melhor. Por exemplo, como em vez de sopa dou gelados aos meus filhos as birras são muito menos frequentes e o governo do lar é mais suave. Nas férias eu sou a pessoa mais popular desta casa. Primeiro, porque gasto dinheiro em coisas parvas com a criançada e depois porque não chateio ninguém, dou muito poucos castigos e raramente grito. Calhasse eu ir a votos em agosto e não precisava de acordos com ninguém para alcançar a unanimidade em torno da minha liderança inequivocamente carismática. A verdade é que durante as férias eu sei como é ser António Costa e percebo porque é que o nosso primeiro-ministro quer tanto ser primeiro-ministro. É que ser primeiro-ministro socialista é como ser leão na selva: dorme-se o dia todo e quando aperta a fome é só rosnar para as leoas irem caçar. O exemplo mais recente é o do secretário de Estado que inventou taxar a vista e que foi ver a bola às custas de uma empresa com a qual o fisco que tutela tem um litígio. Pergunta de algibeira: deve o nosso PM fazer alguma coisa? Claro que não. Paga-se a viagem à dita empresa, dá-se mais um mergulho na praia e anuncia-se que não há assunto. Quanto ao imposto, ninguém se chateia quando são os socialistas a inventar impostos - já nem precisam rosnar. Pois eu copiei António Costa quando no outro dia o meu filho de 3 anos fez xixi no sofá: também não fiz nada. Para mim, aquele xixi é um não assunto. Apenas pendurei a almofada na varanda e fui dar um mergulho. Estou de férias. E eu, de férias, sou como o António Costa a trabalhar.

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