É escolinha, de facto

DN 20090524 Alberto Gonçalves

Quem ouvir acerca da professora de História gravada em flagrante delito verbal e suspensa em consequência? Os alunos que a consideram "espectacular"? As crianças acham "espectacular" qualquer criatura que não as mace com instrução ortodoxa. Os alunos que colaboraram na cilada? Os petizes treinados na denúncia e os pais que os treinam não merecem grande apreço. Os legalistas que se concentram na ilicitude da gravação? Como se notou, ou devia ter-se notado, em trapalhada judicial recente, a invalidez da prova não anula, ou não devia anular, os indícios presentes na mesma. Os furiosos que querem linchar, figurativa ou literalmente, a senhora? A tal trapalhada judicial recente ensinou a todos a beleza da inocência presumida. Os castos que aproveitaram para invocar os perigos da educação sexual? A franqueza lúbrica da senhora não será norma. A senhora propriamente dita? É difícil levar a sério uma pessoa que agita um portentoso mestrado e ameaça os discentes com um "No que te metestes!" (sic). A directora regional de Educação? A sra. Margarida Moreira não comenta o caso, decerto por andar ocupada a enviar às escolas "e-mails" (repletos de erros) de louvor aos seus quatro anos de mandato na DREN. A sra. ministra? Para quê?

O melhor é esquecer o episódio, daqueles que excitam multidões durante uns dias e, no fim, não ensina nada a ninguém. No fundo, trata-se de uma perfeita metáfora do nosso ensino, tão perfeita que arrisca deixar de ser metáfora para se confundir com o ensino que temos, essa aberração que habita o fundo do poço e que, de longe a longe, uma gravação clandestina traz à superfície. Traz ou, diz o ministério do ramo no site dedicado à "e-escolinha", "trás".

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