A razão de Passos
João Gonçalves | Jornal de Notícias | 20160822
Os partidos que hoje apoiam o Governo viveram praticamente os últimos anos na rua, a berrar, nas televisões e nos jornais a apontar o dedo e a "denunciar", nas redes sociais, com os seus voluntários ou avençados, a surpreender por detrás de cada membro do Executivo de Passos um candidato a "fascista" ou um malandro puro. Havia reportagens sobre a "geração mais bem preparada de sempre" que, aos 500 mil, tiveram de "emigrar" em virtude da maldade intrínseca da Direita. Mostravam-se filas matinais nos centros de emprego, "plenários" dos explorados trabalhadores dos transportes públicos municipais, apareciam "precários" como cogumelos em entrevistas e nas ditas redes. Relinchava-se por pelourinhos e demissões. O país era uma miséria institucionalizada pela Direita e aos bonzinhos das Esquerdas competia a tarefa patriótica de alterar tudo isso, primeiro pela habilidade comunicacional e, depois, nas urnas em que Costa falhou. Como não se muda um país em oito meses, tenho de presumir que estas Esquerdas estão confortáveis com tudo o que enumerei a título meramente exemplificativo. E as respectivas corporações também. Voltaram os melancólicos expatriados? Não voltaram. Criaram-se mais postos de trabalho duradouros? Não criaram. Melhorou a prestação dos transportes públicos urbanos? Não melhorou: apresentam todos os dias "perturbações na circulação". O consumo interno é "o" modelo? Não é. A balança comercial externa robusteceu-se graças a Centeno, Cabral, Catarina e Jerónimo? Antes pelo contrário. A percepção de credores, e da informação financeira e económica dos credores, melhorou? Não, como se viu ainda esta sexta-feira com os juros da dívida de maior maturidade a 3%. A carga fiscal foi aliviada e a administração dos impostos dá-se ao respeito? É o que se vê, com um secretário de Estado politicamente pífio e conhecido, até lá fora, pelas travessuras no IMI. A culminar este panorama devastador, mais vale pedir ao Governo para não mexer mais na Caixa Geral de Depósitos. Os episódios com a futura Administração têm sido por demais repugnantes e reveladores de um amadorismo doloso que legitima a pergunta: quais são as condições de autoridade do futuro presidente do banco? Nenhumas. Passos Coelho pode improvisar mal. E estar em minoria diante do charco de falsidades, farsas e festividades em que Costa, aliados formais e informais nos estão a meter. Mas é o único com razão.
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