O plano macroeconómico do PS e a realidade

André Azevedo Alves
Observador 20/8/2016

António Costa está a cumprir perante as suas clientelas políticas mais poderosas e os partidos de extrema-esquerda mas, para o fazer, está a falhar os objectivos que o próprio PS delineara para o país

Mário Centeno, Elisa Ferreira, Fernando Rocha Andrade, Francisca Guedes de Oliveira, João Galamba, João Leão, João Nuno Mendes, José Vieira da Silva, Manuel Caldeira Cabral, Paulo Trigo Pereira, Sérgio Ávila e Vítor Escária: eis a lista dos responsáveis pelo plano macroeconómico que o PS apresentou antes das últimas eleições legislativas, visando credibilizar-se junto dos eleitores. Pouco mais de um ano depois, como oportunamente relembrou Carlos Guimarães Pinto, este é um bom momento para o confrontar com a realidade.
Estou neste caso particularmente à vontade porque defendi aqui há um ano atrás que, nas devidas proporções do contexto académico e científico português, Mário Centeno e Manuel Caldeira Cabral não podem deixar de ser classificados como “economistas de créditos firmados”. Ora, uma vez que à semelhança dos restantes autores do plano macroeconómico apresentado pelo PS, emprestaram a sua credibilidade ao cenário traçado, é de elementar justiça fazer agora um balanço da sua implementação e do cumprimento dos objectivos e previsões aí delineados.
Em termos de crescimento do PIB, os economistas recrutados pelo PS previam, para um cenário de governação do PS, um crescimento de 2,4%. Caso PSD e CDS se mantivessem no poder, os economistas do PS anteviam um resultado menos animador, com o PIB a crescer apenas 1,7%.
Tendo-se concretizado o cenário de governação do PS, qual é a realidade do crescimento económico até ao final do 1º semestre? Nem os 2,4% prometidos, nem sequer os 1,7% do cenário de continuidade da governação PSD/CDS mas uns bem mais modestos 0,8%.
Relativamente à dívida pública, no cenário de governação do PS, os economistas recrutados pelo partido previam uma redução de 1,4 pp. Para o cenário de continuidade da governação PSD/CDS, a previsão era ligeiramente menos optimista: uma redução de 1,2 pp.
A realidade com o PS no poder? Muito pior do que o previsto em qualquer dos cenários anteriores: um aumento da dívida pública em 2,7 pp.
Se acreditarmos nos economistas que o PS recrutou para elaborar o plano macroeconómico que o partido apresentou aos portugueses, o único balanço possível no final do 1º semestre de 2016 é que a governação do PS está a ter um efeito económico devastador face ao que teria sido a continuidade da governação PSD/CDS.
Tudo isto ao mesmo tempo que a situação do sistema bancário nacional se deteriora a olhos vistos com a deplorável e irresponsável gestão política dos casos do Novo Banco e da Caixa Geral de Depósitos e quando só a acumulação de dívida pública no BCE – assente, convém não esquecer, no frágil rating concedido pela agência de notação DBRS – vai evitando o colapso.
O governo liderado por António Costa está a cumprir perante as suas clientelas políticas mais poderosas e perante os partidos de extrema-esquerda que sustentam a “geringonça” mas, para o fazer, está a falhar drasticamente os objectivos que o próprio PS havia delineado para o país há pouco mais de um ano atrás e que hoje parecem estranhamente ter caído no esquecimento. Como bem apontou Rui Ramos: “O governo de António Costa não tem tempo para essas questões. O seu único objectivo é manter a base de poder dos partidos que o apoiam, defendendo o Estado e as suas clientelas à custa do resto da população. Ninguém sabe quando isto vai acabar, mas já pouca gente acredita que acabe bem.”
Independentemente do final que o filme que estamos a viver venha a ter, há no entanto uma coisa que é certa: o plano macroeconómico do PS chocou de frente com a realidade.

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