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A mostrar mensagens de agosto, 2016

Está a gozar, não está?

Helena Matos Observador 31/8/2016 Quem garante aos senhorios de "cariz social" que daqui a uns meses o Governo não rompe o que assina com eles? Afinal foi isso que já aconteceu aos colégios e que agora se anuncia para a saúde. “Governo cria incentivos para senhorios terem estatuto de “cariz social”. Ministério quer convencer privados a praticar rendas acessíveis às classes média e média baixa, mais atingidas pela crise, revela o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, José Mendes.” – Lia-se na versão online do PÚBLICO. Na versão em papel, o destaque da capa ia também para este propósito governamental: “Governo prepara ajudas para envolver privados nas rendas sociais. José Mendes, secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, quer avançar com a figura do senhorio de cariz social. Em estudo estão incentivos para aumentar a oferta de casas às famílias de menores rendimentos.” Deixando de lado a subtileza que leva a que numa versão os senhorios sejam envolvidos e

Cultivar a reflexão na era digital

Pe. Rodrigo Lynce de Faria Se até há uns anos atrás a dificuldade de muitas pessoas era a falta de informação, hoje em dia o problema é o seu excesso. Vivemos saturados de notícias por todos os lados. Podemos ter oitenta canais de televisão, mas isso não nos dá a capacidade de ver de modo ponderado mais do que um por vez. Nem parece ser verdade que o  zapping  constante torne as pessoas mais bem informadas. A televisão é o reino dos sentimentos, não, em geral, do convite ao pensamento perspicaz. A abundância de canais de informação também não nos permitem tirar a conclusão de que devemos dedicar mais tempo às novas tecnologias para estarmos verdadeiramente informados. Isso significa que necessitamos cultivar com empenho uma atitude que, se sempre foi essencial, hoje em dia é imprescindível para não cair no perigo do pensamento único e politicamente correcto: a reflexão.  Foi o pensamento débil que deu à luz o pensamento único. E o pensamento débil germinou devido à f

As férias da estalajadeira

Maria João Avillez Observador 30/8/2016 A casa encher-se-ia de filhos, netos, cônjuges, namoradas, sobrinhos, parentes e sobretudo os omni-presentes "amigos". É verão, estamos em férias e celebra-se acima de tudo a família. 1.  Primeiro foi o caracol do Bordalo. Era grande e pesava, não foi fácil. Quatro braços para o arrastar para porto mais seguro que o jardim, com a casca de cerâmica luzindo ao sol de Julho, tal como pela primeira vez, há anos atrás, olhei um igual, em casa de José Pacheco Pereira, e foi amor à primeira vista (com o caracol). Seguiu-se a retirada da águia de ferro (comprada nos idos de oitenta a um escultor belga num inextricável misto de paixão pelo Benfica e amor à arte) e depois levou-se a grande cigarra que nunca conseguiu ter formiga por companhia como eu teria ambicionado, porque o escultor (da cigarra) não era afeiçoado a formigas. Com este “habitat sobre relva” devidamente removido, puderam montar-se as balizas, anunciadoras da iminente

Oh camarada Jerónimo, seja comunista!

Camilo Lourenço Jornal de Negócios, 20160830 Já olhou para a fatura do seu IMI? Não ficou contente pois não? Agora vá ver a fatura de IMI que os partidos pagam pelos imóveis que têm... Exato: pagam zero. Não, não perca a cabeça e guarde os insultos para mais tarde. Os partidos (e os sindicatos, que estão muito caladinhos!) têm mais de 27 milhões em imóveis. Os do PCP valem mais de 14 milhões de euros. Mas não pagam rigorosamente nada. Nem os partidos nem os sindicatos (com destaque para a CGTP). Enquanto isso, as famílias têm de pagar o couro e o cabelo por um simples imóvel a que chamam "lar". Só isto chega para mostrar o nível de podridão a que chegou a política portuguesa (até agora só o CDS se pronunciou a favor da mudança). Nas últimas semanas, depois da estupidez do agravamento do IMI via "exposição solar", o assunto foi glosado à exaustão nas redes sociais. De tal forma que o PCP se viu obrigado a falar do problema. Jerónimo de Sousa veio dizer que

Intolerância a crianças

Alexandre Homem Cristo Observador 29/8/2016 Todos concordam que o país precisa de mais bebés, mas poucos cedem um milímetro do seu bem-estar para os ter por perto. Nas ruas, não há lei que resista: temos uma cidadania intolerante a crianças. “Olha aqueles espertos que trouxeram um bebé só para passar à frente dos outros; isto agora é só truques, se calhar nem é deles”. Foi debaixo deste e de outros comentários bem sonoros que fui atendido há dias, com a minha mulher, no Serviço de Finanças de Picoas, em Lisboa, acerca de uma situação que envolvia ambos. Chegámos antes do abrir da porta, integrámos a fila formada na rua, tirámos senha quando o relógio bateu as 9h da manhã e, tendo trazido a nossa filha por não termos com quem a deixar àquela hora, exercemos o direito à prioridade no atendimento. Tudo normal? Pelos vistos não, já que os insultos não tardaram. E, incontestados pelos restantes, vieram proferidos por quem menos se esperaria – uma senhora com idade para ser avó, e

Morreu Fernando Guedes, um dos fundadores da Editorial Verbo

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Público 29/08/2016 - 16:05 O editor que lançou a Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura ou a célebre colecção Livros RTP, morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 87 anos. Um dos últimos grandes senhores da edição portuguesa, Fernando Guedes, fundador da Verbo, e também poeta e ensaísta, morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 87 anos. O seu funeral sai esta terça-feira de manhã, às 10h00, da Igreja da Nossa Senhora do Carmo para o cemitério do Lumiar, em Lisboa. Criada com o apoio de um sócio capitalista, Sebastião Alves, em 1958, mas dirigida desde o início, e durante meio século, por Fernando Guedes, a Verbo lançou a gigantesca Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, publicou os cem livros da Biblioteca Básica Verbo – Livros RTP, um sucesso editorial de dimensões épicas nas vésperas do 25 de Abril, e trouxe para Portugal os livros de Anita ou os álbuns de Tintin, sem esquecer os livros de cozinha de Maria de Lurdes Modesto, que venderam centenas de milhares de exempl

Concordata/IMI: Igreja pede cumprimento da Lei

Agência Ecclesia  29 de Agosto de 2016, às 16:55 Responsáveis diocesanos rejeitam ideia de «privilégio» Fátima, Santarém, 29 ago 2016 (Ecclesia) - Os responsáveis pela área económica das dioceses católicas em Portugal pediram hoje ao Executivo que respeite as normas da Concordata em matéria de cobrança de impostos, “em conformidade com a Lei e o Direito”. A posição é assumida numa nota informativa divulgada no final de um encontro que reuniu, em Fátima, os vigários-gerais e ecónomos de várias dioceses. A Igreja Católica afirma não querer “qualquer privilégio” em matéria de impostos, depois de várias paróquias terem sido notificadas para pagar Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) do qual entendem estar isentas, ao abrigo da Concordata de 2004, assinada entre a República Portuguesa e a Santa Sé. A nota, divulgada pela Renascença, sublinha que a reunião em Fátima decorreu “num espírito de entendimento comum” para que sejam respeitadas as “normas legais em matéria de aplica

O Manifesto Staples

SÉRGIO VASQUES | Jornal de negócios | 28 Agosto 2016 Numa rara combinação de empreendedorismo e cidadania, a DECO acaba de  lançar uma iniciativa que se adivinha o grande sucesso deste regresso às aulas. Trata-se do "Manifesto pela dedução de todas as despesas de educação no IRS", com o qual a DECO pretende corrigir a injustiça de apenas serem dedutíveis como tal despesas sujeitas a taxa reduzida de IVA e despesas facturadas por entidades que se dediquem ao ensino ou comércio de livros. Estes requisitos, fixados no Código do IRS, deixam de fora materiais como as máquinas calculadoras e serviços como as refeições facturadas autonomamente por cantinas escolares. O manifesto da DECO destina-se a ser entregue "em mãos" ao governo e parlamento com vista a condicionar a preparação do próximo orçamento. Com um "twist", porém: a subscrição do manifesto faculta aos subscritores um cupão de desconto junto das lojas Staples nas compras do próximo regresso

O BE não pactua é com democracias

Alberto Gonçalves DN 20160828  Por dever de ofício, inclinação natural ou gozo, os políticos sempre mentiram. A diferença é que antigamente a mentira implicava um esforço, alguma sofisticação, um esboço de enredo. No Portugal de hoje, atiram-se ao ar as mais descaradas e preguiçosas patranhas na esperança de que as pessoas as engulam. E o nível de exigência está tão baixo que a esperança é fundamentada e as pessoas engolem mesmo as patranhas. Segundo Catarina Martins, o BE não enviou um representante ao congresso do MPLA por "não pactuar com ditaduras". É preciso lata, mas também é preciso uma audiência particularmente anestesiada. Catarina, a Pequena, poderia justificar a ausência do partido dela em Luanda com o clima, o transtorno das viagens ou a aversão a mandioca: com a ditadura angolana é que não. Até é ridículo ter de lembrar a simpatia apaixonada do BE pela ditadura palestiniana, ou a simpatia assumida do BE pela ditadura venezuelana, ou a simpatia mal dis

Pobre património

António Barreto DN20160828  A discussão, sem fim, dura há dezenas de anos. Vai tendo, conforme os tempos, problemas e soluções diferentes. Que grau de prioridade deve ser atribuída à inventariação, à preservação, ao estudo e à divulgação do património edificado? Muito? Tudo de que precisa? Medianamente? Deixado ao mecenato privado? É mais importante do que as "artes vivas" ou "performativas", como se diz agora? Mais ou menos importante do que a música, a literatura, a pintura, o cinema e a escultura? Dentro da área vastíssima da cultura e do ponto de vista das políticas públicas, o que é mais importante, o património erudito e a "alta cultura" ou as artes e tradições populares? A investigação é mais importante do que a divulgação? O estudo é mais urgente do que a disseminação popular e de massas? A resposta mais fácil é aquela que está no espírito de muita gente. Tudo é urgente, tudo é prioritário, não se deve subestimar nenhuma área, todas as ar

Cristianismo e Jogos Olímpicos

P. Gonçalo Portocarrero de Almada Observador 27/8/2016 Se é à revolução francesa que se deve a restauração do olimpismo, como explicar que os Jogos Olímpicos só tenham recomeçado “moderna e definitivamente em 1896”, ou seja … mais de cem anos depois?! No Público de 19 de Agosto passado, o historiador Rui Tavares, que também é fundador do Livre, escreveu: “o que acabou com os Jogos Olímpicos antigos foi a chegada ao poder do cristianismo. Teodósio, o primeiro imperador cristão a governar sobre o Império Romano (Constantino foi o primeiro a converter-se ao cristianismo, mas já perto da sua morte), emitiu uma série de decretos abolindo todo o tipo de cultos aos deuses pagãos, e foi assim que os Jogos Olímpicos, que eram tanto uma festa religiosa quanto desportiva, se extinguiram por mais de mil e quatrocentos anos. Teodósio era orgulhosamente intolerante contra os rituais, as imagens e a sensualidade do paganismo”. É curioso que este historiador, embora reconheça que Constant

Um filho

Inês Teotónio Pereira DN20160827  É um clássico: uma pessoa sai à rua com seis crianças e tem a sensação de que está a desfilar num cortejo do circo. Uma família com seis filhos e um elefante com duas trombas despertam as mesmas emoções de espanto e até admiração. Pois, tenho a dizer que depois de passar uma semana com apenas um filho enquanto os outros estão distribuídos pelo país, acho esta admiração por famílias numerosas descabida. O que custa é aturar um filho, e não seis. Com seis filhos somos uma espécie de comandante de um batalhão: dá-se ordens e depois podemos ir ler um livro. A máquina funciona sozinha, eles brincam uns com os outros, ajudam-se uns aos outros e chateiam-se uns aos outros. Com um, temos de ser nós a brincar, a ajudar e, como não há mais ninguém, é a nós que a criança chateia. Ao fim de uma semana a criança está farta de me aturar e eu farta de andar de gatas, de fazer castelos na areia, mudar fraldas e já sonho com o Bombeiro Sam e a Patrulha Pata. Te

O fracasso olímpico português e o culto das medalhas

André Azevedo Alves 27/8/2016 Parece altamente duvidoso que haja algum benefício no frenesim nacionalista criado em torno da concorrência por medalhas olímpicas mas, a tê-lo, que se distribuam os recursos de forma mais eficiente Alguns dias passados sobre o encerramento do frenesim olímpico talvez já seja possível fazer um balanço mais frio e ponderado do Rio 2016. Pela minha parte, houve dois aspectos merecedores de realce: mais uma fraca participação portuguesa em termos de medalhas e o simbolismo que a contabilidade dessas mesmas medalhas parece continuar a assumir no imaginário nacionalista de muitos. São aspectos distintos, mas creio que há pontos de contacto entre eles. Devo realçar que não considero a contabilidade das medalhas particularmente relevante – e certamente não é sinal de prosperidade ou desenvolvimento. Basta pensar que países como Cuba ou a Coreia do Norte – cujas populações são quotidianamente martirizadas pelo totalitarismo comunista – conquistaram re

É óbvio que eles não estão arrependidos

Rui Ramos Observador 26/8/2016 Catarina Martins não está arrependida, tal como Jerónimo de Sousa não está arrependido. Não têm uma única razão para isso. A actual maioria parlamentar foi a maior vitória política do PCP e do BE. Catarina Martins disse algures que todos os dias se arrependia da “geringonça”, e a imprensa comoveu-se. Sem razão. Catarina Martins não está arrependida, tal como Jerónimo de Sousa não está arrependido. Não têm uma única razão para isso. A actual maioria parlamentar corresponde ao que o PCP e os partidos que depois engendraram o Bloco de Esquerda propõem desde 1976. Foi a sua maior vitória política em quarenta anos. Em 1975, contra a influência militar do PCP e da “extrema-esquerda”, formou-se em Portugal uma maioria a favor de uma democracia de tipo ocidental, no quadro da NATO e da integração europeia. Essa maioria era composta à direita pelo PSD e CDS, e à esquerda pelo PS. Perante esta maioria democrática, o PCP e depois a extrema-esquerda dese