Silêncio e Respeito

MIGUEL ESTEVES CARDOSO      PÚBLICO      10.11.16

Tudo na vida conspira para que a bolha em que vivemos se torne cada vez mais pequena, parecida e convivial. Filtramos tudo até só estarmos com pessoas que são como nós, pensam como nós e gostam, mais ou menos, das mesmas coisas do que nós. As discussões não são discussões nem podem ser. São simples confrontos de diferenças de opinião.

É bom sair da bolha e ir ler o que dizem as pessoas que não são como nós. A leitura é ideal porque não podemos responder-lhes, interrompê-las ou conversar com elas.

Isto de não conversar é muito bom. Lendo e ouvindo damos uma verdadeira oportunidade a quem lemos e ouvimos. Num debate não há nem pode haver debate profundo. Há debate profundo - e eficaz - quando prescindimos da nossa intervenção para tentar entender o que outra
pessoa quer dizer. Cabe-nos interpretá-la. Mas sem incomodá-la.

Não se pode denunciar credivelmente o politicamente correcto sem conhecer alguns dos debates sobre as melhores maneiras de falarmos uns com os outros, respeitando as identidades e as ideias de cada um.

É verdade que esses debates, quase sempre entusiásticos e muitas vezes sofisticados, ocorrem dentro de bolhas, de mundos limitados e bem defendidos.

Mas é lá que se aprende que é tudo uma questão de respeito. E, no sentido mais antigo e prestável, de etiqueta e de diplomacia. Começa logo pelas formas de tratamento e pelos comportamentos mais bem-educados. É por isso que se chama má educação. A ignorância é a causa podre do desrespeito. Respeitar é conhecer.

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