A alegria de curar

Pe. VITOR GONÇALVES    VOZ DA VERDADE     11.12.16


DOMINGO III ADVENTO Ano A

“Os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados,os surdos ouvem, os mortos ressuscitame a boa nova é anunciada aos pobres.”Mt 11, 5


Quantos trabalham para curar as imensas feridas da existência humana? Quantos pedem, e também fazem, pequenos e grandes milagres de cura e libertação? Quantas vezes já experimentámos a saúde recuperada, a paz que o perdão trouxe, a alegria de uma vitória? Nos limites humanos reconhecemo-nos mais próximos de todos e mais necessitados uns dos outros. Não é esse um dos milagres que a fragilidade produz que chega a aliviar o peso das questões mais dramáticas?
A resposta de Jesus à pergunta de João Baptista não poderia ser mais directa: os seus milagres correspondem aos sinais anunciados por Isaías e pelos profetas. A dúvida de João é semelhante a muitas outras, que imaginam Deus como guerreiro e juíz, a aplicar a justiça com critérios simplesmente humanos. Qual executor cego daquilo que achamos que deveria ser feito para acabar com o mal, nomeadamente, exterminando os malvados! A verdadeira justiça não será salvar em vez de condenar, libertar em vez de aprisionar, curar em vez de abrir novas feridas?
As curas apontadas por Jesus resumem as feridas humanas que impedem uma realização plena. Não ver, estar paralisado, ser excluído, não ouvir, e morrer sintetizam a condição humana com os seus limites e incapacidades. Evocam cegueiras e paralisias maiores e mais profundas, exclusões e silêncios mais desumanos, e a morte como fim irremediável. É de tudo isso que Jesus nos quer curar. Não como curandeiro de serviço e sem mãos a medir, mas como enviado do Pai que pelo seu amor salva e recria. Esse amor que também nos transforma em curadores uns dos outros, sempre que ele pode irradiar pelas nossas palavras e gestos.
O “desejo missionário de chegar a todos” que foi escolhido para lema do Sínodo da Diocese de Lisboa tem a sua força nas palavras e sinais de Jesus. Queremos que chegue a todos a alegria libertadora de Jesus Cristo, a graça de Deus que vê mais longe e mais fundo, a vitalidade que vence as paralisias, a inclusão que abraça as diferenças, a palavra e a melodia que entram pelos ouvidos, a vida maior do que a morte. Este desejo nasce do coração de Deus e é tarefa de evangelização que se faz uns com os outros. Em dinamismo sinodal que há-de ser a expressão comunitária onde todos contam e todos participam. Porque a Igreja não existe por si ou para si mesmo, nem é construída por poucos ou só por alguns e sempre que isso acontece cria, dolorosamente, novas feridas e reabre outras passadas.
A alegria de libertar e restabelecer alguém é fruto para todos saborearem. Deus ama e não quer fazer tudo sozinho. Fez-se homem porque ama este mundo e, como disse o filósofo Ortega y Gasset, “se Deus se fez homem, ser homem é a coisa mais importante que se pode ser.” Como podemos ficar indiferentes às reais possibilidades de curar, libertar e salvar que estão em nós e diante de nós? Nenhuma palavra as pode substituir!

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