Cardeal-Patriarca pede uma «sociedade paliativa»
O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, afirmou hoje que «a eutanásia não elimina apenas a dor, elimina a vida, e a vida é um direito inviolável pela nossa Constituição», tecendo duras críticas a quem deseja uma «legalização abusiva», referindo que «algumas sociedades europeias começam a descartar situações e depois não se sabe» onde se vai parar.
«O problema das gravidezes não apoiadas: aborto; o problema das doenças incuráveis, sem perspetivas: eutanásia. Qualquer dia, quem é que fica? Se começamos a cortar, qualquer dia ficamos muito poucos. Aquilo que acontece na Holanda, na Bélgica, onde se liberalizou a eutanásia e se dizia que era só para casos gravosos, vai-se alargando tanto que a certa altura a pessoas sente-se desacompanhada porque os filhos saíram de casa, e dá eutanásia. Aparece uma doença que até pode nem ser tão grave, mas a pessoa desanima, vai a eutanásia, mesmo que seja na adolescência. Se abrimos esta porta, como é que ficamos?», questionou, em declarações aos jornalistas, proferidas no final da eucaristia que serviu de encerramento ao Sínodo Diocesano e de ordenação de um sacerdote paulista e de cinco novos diáconos.
Para D. Manuel Clemente, a solução para essas situações passa por acompanhar quem está em dificuldades. «São muitos os testemunhos de cristãos e de outras pessoas de que quando há companhia, presença, esses problemas vivem-se de outra maneira, e as pessoas querem continuar. Isto é muito mais importante que, quando temos um problema pela frente, começarmos a descartar», sustentou.
Por isso, sugere que a sociedade se torne «paliativa», estendendo «um manto protetor aos que sofrem momentos difíceis e a roçar o desespero». «Tornemo-nos também nós numa “sociedade paliativa”, que corresponda com mais proximidade e maiores cuidados a qualquer dor que surja, a cada pessoa que sofra. De contrário avançaria a morte, que nem se há de pedir nem jamais se há de dar a ninguém. Entreabrir-lhe a mais pequena brecha seria rapidamente escancarar-lhe a porta larga das mais graves consequências – como já se sofrem nas sociedades que o fizeram», referiu o Cardeal-Patriarca na homília.
Referindo que a Conferência Episcopal Portuguesa já emitiu uma Nota Pastoral com a posição dos bispos, D. Manuel a leitura do documento, mas deixou claro que a solução é «acompanhar», não «descartar». «Quando houver problemas, resolvem-se com mais companhia e mais presença, não se resolvem deixando a pessoa morrer com o seu problema. A Constituição diz que o direito à vida é inviolável, então vamos tornar este direito uma prática», pediu.
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