Viva Vieira!

Miguel Esteves Cardoso
Público 06/04/2013

Tal como Vasco Graça Moura, também eu saúdo, agradeço e aplaudo todos aqueles que nos vão dar, até Setembro do ano que vem, 30 volumes da obra de António Vieira. É a melhor notícia literária de sempre, apetece dizer. Parabéns também à Santa Casa da Misericórdia que faz tanto bem por quem passa mal: os 500 mil euros que ofereceu mostram que tem uma ideia larga, generosa e cultural do nosso bem-estar como portugueses.
Pondo de parte os poetas, Vieira é o melhor escritor português. Não fica bem falar de prosa. Vieira não escrevia em versos, mas aquilo que escreveu, quando estava a escrever bem, faz dançar o nosso entendimento.
As obras de Vieira - segundo as conheço até agora, parcialmente e à espera de serem ampliadas - são desiguais e inconsistentes.
Os melhores sermões são obras-primas - e são muitos. Outros são cumprimentos de tarefas, sem um único brilho, como se preenchessem formulários escondidos.
Passei um Verão da minha vida a ler, 16 horas por dia, nove volumes da primeira edição dos Sermões de Vieira. Sublinhei-os a lápis, tal era a selvajaria do meu entusiasmo. Estraguei-os com o meu amor por eles: foi há mais de 25 anos, mas, enquanto escrevo estas linhas, tenho a consolação de estar a olhar para eles.
A grafia, ortografia, pontuação e a tipografia eram estranhíssimas, mas facilmente compreensíveis, à partida. A escrita não só sobrevivia como se reproduzia. Bem. A nova edição sobreviverá mais uma estranha penumbra.

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