A língua de Camões e a coxa
Gonçalo Portocarrero de Almada,ionline13 Abr 2013
Andam por aí uns quantos académicos irritados por causa do Acordo Ortográfico. A zanga faz sentido porque, se a nossa pátria é a língua portuguesa, atentar contra ela é um crime de lesa-pátria. Mas importa chamar também a atenção para outros atentados contra o bom uso da língua a que, ao que parece, são indiferentes as autoridades competentes na matéria.
Bom exemplo desse mau uso da língua portuguesa é o de um insistente e irritante anúncio radiofónico, onde um casalinho dos arrabaldes se gaba do tratamento que lhes fez perder muitos quilos e, certamente, muitos euros também, embora sobre este particular mantenham um pudico silêncio. Felizes pela sua reencontrada elegância, elogiam os serviços da nutricionista e da «coach».
Sendo eu alfacinha dos quatro costados, pensei que a «coach» era a forma sincopada de «coxa», parte do corpo humano especialmente propensa para o indevido armazenamento das banhas de que aquele dito casal, talvez casado em regime de comunhão de gorduras, era assaz farto. Ou então alguma senhora manca que, por ignorarem o seu nome, aqueles nédios pombinhos referiam dessa forma bizarra. Mas não, a «coach» não era nenhum avantajado pernil, nem nenhuma dama deficiente, mas a técnica que ajudara os conjugais obesos na penosa ascensão ao cume da sua estética transfiguração.
Na língua portuguesa, há muitas palavras que traduzem bem a palavra inglesa «coach» mas, pelos vistos, a empresa de emagrecimentos milagrosos, com a conivência da estação radiofónica, achou que nenhum termo do nosso léxico era digno dos seus reclames. E as autoridades não reagem a estes atentados contra a nossa língua, entretidas como estão em promover o desacordo ortográfico.
Resta a esperança de que todos os termos estrangeirados que por aí pululam, ofendendo a língua de Camões, que era vesgo mas não coxo, sejam em breve recolhidos e fechados à chave nas novas instalações do museu dos «coachs»!
Andam por aí uns quantos académicos irritados por causa do Acordo Ortográfico. A zanga faz sentido porque, se a nossa pátria é a língua portuguesa, atentar contra ela é um crime de lesa-pátria. Mas importa chamar também a atenção para outros atentados contra o bom uso da língua a que, ao que parece, são indiferentes as autoridades competentes na matéria.
Bom exemplo desse mau uso da língua portuguesa é o de um insistente e irritante anúncio radiofónico, onde um casalinho dos arrabaldes se gaba do tratamento que lhes fez perder muitos quilos e, certamente, muitos euros também, embora sobre este particular mantenham um pudico silêncio. Felizes pela sua reencontrada elegância, elogiam os serviços da nutricionista e da «coach».
Sendo eu alfacinha dos quatro costados, pensei que a «coach» era a forma sincopada de «coxa», parte do corpo humano especialmente propensa para o indevido armazenamento das banhas de que aquele dito casal, talvez casado em regime de comunhão de gorduras, era assaz farto. Ou então alguma senhora manca que, por ignorarem o seu nome, aqueles nédios pombinhos referiam dessa forma bizarra. Mas não, a «coach» não era nenhum avantajado pernil, nem nenhuma dama deficiente, mas a técnica que ajudara os conjugais obesos na penosa ascensão ao cume da sua estética transfiguração.
Na língua portuguesa, há muitas palavras que traduzem bem a palavra inglesa «coach» mas, pelos vistos, a empresa de emagrecimentos milagrosos, com a conivência da estação radiofónica, achou que nenhum termo do nosso léxico era digno dos seus reclames. E as autoridades não reagem a estes atentados contra a nossa língua, entretidas como estão em promover o desacordo ortográfico.
Resta a esperança de que todos os termos estrangeirados que por aí pululam, ofendendo a língua de Camões, que era vesgo mas não coxo, sejam em breve recolhidos e fechados à chave nas novas instalações do museu dos «coachs»!
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