Tatcher

Miguel Monjardino
Expresso, 13 de Abril de 2013

Um humilhante pedido de ajuda ao FMI. Empresas públicas altamente deficitárias. Manifestações e greves dos sindicatos mais poderosos. Impostos extremamente elevados. Desemprego a níveis inacreditáveis. Uma moeda excessivamente forte a criar dificuldades às empresas exportadoras. O futuro do estado social ameaçado. Elites nacionais dependentes da despesa pública e dos favores de um estado altamente centralizado e falido. Um sentimento generalizado de empobrecimento e de decadência nacional. Um país paralisado do ponto de vista político.

Parece familiar, não é? Mas o país em questão não é Portugal. Estou a falar da Inglaterra em 1979. Foi esta a situação que Margaret Thatcher encontrou quando chegou a Downing Street há trinta e quatro anos. A sua morte esta semana é uma boa oportunidade para compreendermos a natureza dos desafios internos e europeus que temos pela frente.

Thatcher chegou ao governo com ideias políticas claras. O seu objectivo não foi continuar a gerir um modelo económico que tinha deixado de produzir resultados satisfatórios para a sociedade e arruinado o país. A colaboração com Keith Joseph, Alfred Sherman, Alan Walters e Peter Bauer e as ideias de Friedrich Hayek e Milton Friedman levaram-na a propôr uma relação completamente diferente entre o Estado, os indivíduos e o mercado. No centro das suas propostas estava a liberdade individual, um governo competente e instituições fortes. A liberalização, a privatização, a concorrência e a baixa dos impostos foram peças essenciais do seu programa reformista.

A oposição da aristocracia sindical, social, universitária e de praticamente todas as elites foi feroz mas Thatcher teve a coragem e a tenacidade necessárias para mudar a ideologia do seu partido e nunca perdeu uma eleição nacional. Os trabalhistas, conservadores e liberais que lhe sucederam após a sua espectacular e merecida queda política em 1990 não mudaram o essencial deste programa.

O que é que tudo isto tem a ver com Portugal? Muito, acho eu. Veja-se os nossos debates a nível doméstico. Os números mostram que o nosso modelo económico deixou de produzir resultados minimamente satisfatórios desde há quinze anos. Há muito que chegámos ao fim da linha. A social-democracia portuguesa não tem nem as ideias nem os recursos necessários para funcionar como deve ser. Precisamos de encontrar um novo equilíbrio entre o Estado, os indivíduos, as empresas e os mercados. Mas ninguém diria. Basta olhar para a imprensa e para os canais de televisão nacionais para compreender que a maioria da aristocracia nacional não está interessada em liderar um processo de mudança que é inevitável. Portugal é um Parque Jurássico ao nível da ideologia e das políticas públicas.

O cenário europeu não é melhor. Parte do problema tem a ver com as políticas deflacionistas seguidas pelo norte da Europa. Mas, como Vítor Bento e Joaquim Aguiar têm defendido, a outra parte está relacionada com a incapacidade dos nossos decisores políticos mudarem a sua maneira de pensar e agir no quadro da zona euro. A carreira política de Thatcher acabou por causa da integração europeia. Londres nunca conseguiu resolver o seu dilema nesta área. Em Portugal, vamos pelo mesmo caminho.

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