Romney - um apoio crítico
Público 2012-11-06 Jaime Nogueira Pinto
Desta vez, quem consulte os mapas e sondagens do Real Clear Politics fica elucidado sobre as margens muito estreitas que parecem separar os candidatos. Isto faz com que pequenas franjas de eleitores em estados-chave como a Florida, o Ohio ou a Pensilvânia possam decidir tudo.
Mas não é uma previsão que me é pedida, é antes uma posição, um apoio a um dos candidatos. Como não sou americano e acho que a definição da fronteira é decisiva para tais apoios, tentarei estabelecer e fundamentar uma preferência, sob esta condição e reserva. Sem raiva nem paixão.
Ao contrário de Ronald Reagan ou John McCain, o primeiro pelas ideias o segundo pela vida e carácter, Mitt Romney não me entusiasma especialmente: é um "country club republican", "business oriented" e algo inconstante no passado nos valores de orientação permanente de família, costumes e instituições. E é mormon.
Só que, como dizia o cínico Taleyrand, a política também acaba por ser escolha entre inconvenientes. E na política externa, a que mais pode determinar um estrangeiro, as agendas são próximas e Obama mostrou realismo, nomeadamente no Médio Oriente e na luta antiterrorista onde conseguiu eliminar Bin Laden.
Por todas estas reservas, então por que é que prefiro Romney?
Primeiro, por que os símbolos contam e ele endossou, na sua agenda e programa, os valores do Partido Republicano, um partido muito mais à direita que o candidato (e que todos os partidos no poder na Europa...).
Escusado será dizer também que trará uma equipa com pessoas, currículos e agendas com as quais me identifico mais que com os democráticos.
Nas questões de Defesa, Romney não vai cortar nos orçamentos militares e promete manter uma capacidade de projecção de poder que, com uma Europa cada vez mais desarmada, é imprescindível ao Ocidente.
No plano económico, financeiro e fiscal, acredito que as políticas da equipa republicana são mais eficazes para repor a economia americana em marcha e salvar a classe média, que as da actual Administração. Além de que a Casa Branca ficará no alinhamento partidário do Congresso, o que também ajuda.
Embora não me entusiasme a retórica de Romney sobre o Irão e o Médio Oriente, com os seus tiques de missionarismo democrático e o seu discurso "duro" em relação à China e à Rússia, penso que na política externa não haverá grandes mudanças e o realismo vai prevalecer.
Nos próximos anos o mundo vai tornar-se um lugar (ainda) mais perigoso: a globalização/fragmentação das economias e dos territórios, a proliferação dos Estados falhados, dos fanatismos terroristas, do crime organizado, a decadência, demissão e crise da União Europeia, pedem a existência de um poder forte e estabilizador. Com a ascensão dos novos poderes asiáticos - da China antes de todos - é bom que haja hoje uma potência de matriz cristã e ocidental capaz de intervenção e dissuasão.
Barack Obama irradia simpatia, teve uma política em certa medida realista, não cedeu à demagogia da sua campanha de 2008, não fechou Guantánamo e não tratou os terroristas como cidadãos exemplares. A sua retórica é abrangente de tudo e todos. Mas pelas razões que o Rui Tavares referiu ontem aqui no PÚBLICO para apoiar - o seu "progressismo" de esquerda - eu acho que é importante que ele não tenha um novo mandato. Logo, prefiro Romney, porque a sua vitória significa a vitória da direita.
E para a segurança do mundo é importante que a direita ganhe na América.
Assim, sem fazer disso um grande sucesso, nem do contrário uma tragédia, espero que ao fim desta noite a dupla Romney-Ryan tenha conquistado a Casa Branca.
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