O Estado social está em risco e a culpa é nossa
Alexandre Homem Cristo, i-online 19 Nov 2012
É necessário garantir que, a uma mulher que queira trabalhar e ter filhos, são dadas as condições para fazer ambos
Portugal tem hoje a segunda taxa de fecundidade mais baixa do mundo: 1,3 filhos por mulher entre os 15 e os 49 anos. Pior, só na Bósnia (1,1). Abaixo dos 2,1 desde 1983, a nossa taxa de fecundidade não garante a renovação de gerações há quase 30 anos. Desde então, o país passou de 144 mil nascimentos (em 1983) para 90 mil, número estimado para 2012. São 54 mil crianças a menos. O facto é evidente: estamos lentamente a desaparecer. E o que significa isso? Que a demografia é, hoje, a maior ameaça ao modelo de organização da nossa sociedade.
Não há como fugir ao tema. Com cada vez mais velhos e cada vez menos jovens, o Estado Social não é financeiramente viável. A aritmética é fácil de entender: se os que trabalham para suportar o sistema são menos do que os que dele usufruem, o dinheiro não chegará para todos. O sinal de alerta está lançado. O Estado Social está, realmente, em risco. E não, a culpa não é do Gaspar. Nem da “direita salazarenta” que a esquerda inventou para ornamentar os seus discursos. É da demografia. É de todos nós. É de quem nos governou durante os últimos 25 anos. E será de quem hoje nos governa se nada for feito para contrariar a tendência. Mas como fazê-lo?
É necessário garantir que, a uma mulher que queira trabalhar e ter filhos, são dadas as condições para fazer ambos. Muitos países do Ocidente têm enfrentado o problema, nas últimas décadas, e as suas estratégias diferem. Em alguns, apostou-se em benefícios fiscais e apoios financeiros generosos, para diminuir os encargos familiares com os filhos. Noutros, implementou-se uma rede de creches e infantários onde, por custos baixos ou inexistentes, as mulheres podem deixar as crianças durante o seu horário de trabalho. E, na Dinamarca, essas creches até oferecem um serviço nocturno, para que os pais possam, em paz, fazer mais bebés. De facto, soluções possíveis não faltam. O que falta é o resto. A começar pelo consenso de que estamos perante uma urgência nacional e que, apesar dos factos, está longe de ser alcançado.
Diz o discurso oficial do regime que os paladinos do Estado Social estão todos à esquerda. Que, à direita, só há inimigos. Mas os factos negam-no. É que, ao contrário da direita, a esquerda não evidencia um sinal de preocupação com a questão demográfica. Nem uma palavra se ouve sobre o tema. Como justificá-lo, sabendo-se que por todo o mundo se compreende a queda demográfica como uma ameaça aos sistemas de apoios sociais? Não tem justificação. Mas tem, no preconceito, explicação.
No debate público, a demografia aparece pouco e, quase sempre, pela voz de católicos. Essa aparente apropriação introduz, aos olhos da esquerda, uma incompatibilidade com o seu cânone revolucionário. Por isso, afasta-os do debate. E desperta nas suas almas a mesma repulsa que Isabel Jonet acordou. Não é a demografia que está em causa. Nunca foi. São as companhias no debate – o seu sotaque, a sua classe social, a sua fé.
Acontece que, independentemente dos sotaques, das classes sociais e das fés, a defesa a longo prazo da sustentabilidade do Estado Social passa pela demografia. É um problema nacional. De todos, sem distinções. E, por todos, algo deve ser feito. A demografia tem muita força, mas não é um fatalismo. Comecemos, então, por reunir os necessários consensos. Comecemos, então, por derrotar os preconceitos que os impedem.
É necessário garantir que, a uma mulher que queira trabalhar e ter filhos, são dadas as condições para fazer ambos
Portugal tem hoje a segunda taxa de fecundidade mais baixa do mundo: 1,3 filhos por mulher entre os 15 e os 49 anos. Pior, só na Bósnia (1,1). Abaixo dos 2,1 desde 1983, a nossa taxa de fecundidade não garante a renovação de gerações há quase 30 anos. Desde então, o país passou de 144 mil nascimentos (em 1983) para 90 mil, número estimado para 2012. São 54 mil crianças a menos. O facto é evidente: estamos lentamente a desaparecer. E o que significa isso? Que a demografia é, hoje, a maior ameaça ao modelo de organização da nossa sociedade.
Não há como fugir ao tema. Com cada vez mais velhos e cada vez menos jovens, o Estado Social não é financeiramente viável. A aritmética é fácil de entender: se os que trabalham para suportar o sistema são menos do que os que dele usufruem, o dinheiro não chegará para todos. O sinal de alerta está lançado. O Estado Social está, realmente, em risco. E não, a culpa não é do Gaspar. Nem da “direita salazarenta” que a esquerda inventou para ornamentar os seus discursos. É da demografia. É de todos nós. É de quem nos governou durante os últimos 25 anos. E será de quem hoje nos governa se nada for feito para contrariar a tendência. Mas como fazê-lo?
É necessário garantir que, a uma mulher que queira trabalhar e ter filhos, são dadas as condições para fazer ambos. Muitos países do Ocidente têm enfrentado o problema, nas últimas décadas, e as suas estratégias diferem. Em alguns, apostou-se em benefícios fiscais e apoios financeiros generosos, para diminuir os encargos familiares com os filhos. Noutros, implementou-se uma rede de creches e infantários onde, por custos baixos ou inexistentes, as mulheres podem deixar as crianças durante o seu horário de trabalho. E, na Dinamarca, essas creches até oferecem um serviço nocturno, para que os pais possam, em paz, fazer mais bebés. De facto, soluções possíveis não faltam. O que falta é o resto. A começar pelo consenso de que estamos perante uma urgência nacional e que, apesar dos factos, está longe de ser alcançado.
Diz o discurso oficial do regime que os paladinos do Estado Social estão todos à esquerda. Que, à direita, só há inimigos. Mas os factos negam-no. É que, ao contrário da direita, a esquerda não evidencia um sinal de preocupação com a questão demográfica. Nem uma palavra se ouve sobre o tema. Como justificá-lo, sabendo-se que por todo o mundo se compreende a queda demográfica como uma ameaça aos sistemas de apoios sociais? Não tem justificação. Mas tem, no preconceito, explicação.
No debate público, a demografia aparece pouco e, quase sempre, pela voz de católicos. Essa aparente apropriação introduz, aos olhos da esquerda, uma incompatibilidade com o seu cânone revolucionário. Por isso, afasta-os do debate. E desperta nas suas almas a mesma repulsa que Isabel Jonet acordou. Não é a demografia que está em causa. Nunca foi. São as companhias no debate – o seu sotaque, a sua classe social, a sua fé.
Acontece que, independentemente dos sotaques, das classes sociais e das fés, a defesa a longo prazo da sustentabilidade do Estado Social passa pela demografia. É um problema nacional. De todos, sem distinções. E, por todos, algo deve ser feito. A demografia tem muita força, mas não é um fatalismo. Comecemos, então, por reunir os necessários consensos. Comecemos, então, por derrotar os preconceitos que os impedem.
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