Dito&Feito - O caso de Freitas do Amaral
Sol 26 de Novembro, 2012, José António Lima
Freitas do Amaral personifica um caso, quase único, que contraria a tradicional tendência de se ser radical na juventude, moderado na meia-idade e conservador na velhice.
Hoje em dia alinhado, em regra, com as teses mais esquerdistas, o fundador do CDS chegou a ser o símbolo de toda a direita portuguesa nas presidenciais de 1986, que perdeu por uma unha negra para Mário Soares. Há quem diga que a sua surpreendente viragem à esquerda começou aí, politicamente derrotado, seduzido pelo brilho da nova corte soarista e pelo magnetismo indulgente do Presidente socialista. Que se tornou seu inspirador e compagnon de route nos últimos 25 anos.Secundando o actual bota-abaixismo de Soares, Freitas veio agora propor a queda do Governo de Passos Coelho e adivinhar que «é quase inevitável haver eleições entre o quarto e o nono mês de 2013». Como? Fácil, acrescenta o ex-ministro de Sócrates. O Presidente da República poderá invocar um de dois motivos: em Março ou em Junho, «os resultados da execução orçamental afastarem-se ainda mais do Orçamento aprovado»; ou, em último caso, em Outubro, «uma derrota esmagadora do PSD e do CDS, mas sobretudo do PSD, nas eleições autárquicas».
É certo que Freitas do Amaral já fez cair um Governo da AD, em 1982, com o pretexto de um resultado menos famoso numas autárquicas. Mas, ainda assim, esse não parece motivo bastante para o Presidente alegar que está em causa o regular funcionamento das instituições democráticas... Freitas devia até recordar-se que Cavaco Silva perdeu outras autárquicas, em 1989, continuou solidamente no Governo e obteve mesmo uma segunda maioria absoluta em 1991. Mas, pelo que se lê, qualquer motivo serve, hoje em dia, para Freitas pedir o derrube do Governo. Fazendo coro com Mário Soares e o Bloco de Esquerda.
A culminar esta sua deriva radical, Freitas do Amaral chega ao ponto de afirmar que a recente intervenção policial frente ao Parlamento «foi talvez demasiado violenta, atendendo a que não houve um ataque dos manifestantes contra as forças policiais. Houve pedradas, mas não luta corpo a corpo». Extraordinário!... Só faltou mesmo Freitas confessar que andou por lá, de capuz e lenço na cara, a atirar pedradas. Que, no seu entender, não entram na categoria de ataques às forças policiais – devem ser só contundentes divergências de opinião.
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