O Rato que Ruge

Fernando Melro dos Santos,
Estado Sentido, 30.11.12

Hoje senti na pele um dos problemas mais graves que assolam, e assolarão ainda mais, os Portugueses.
Levei o meu carro, que tem quatro anos, à inspecção obrigatória. Devia talvez ter pedido um parecer ao constitucionalista Jorge Miranda, porque segundo o mesmo, se é obrigatória devia ser gratuita. Mas não foi, larguei lá 28 euros.
O meu carro, que está em perfeito estado de conservação exterior e mecânica, tem à frente um pneu 225/45 marca Yokohama, e um pneu 225/45 marca NanKang, a única que havia em Alcains quando lá tive um furo nesta Páscoa, por acaso na Sexta-Feira Santa. Ambos os pneus são novos, com cerca de 8 mil km feitos.
Ora o meu carro chumbou. Os pneus são novos e da mesma medida, mas não são, de acordo com as normas, iguais. E agora tenho que optar entre deitar fora um pneu novo de 120 euros, ou esperar que não me multem, na estrada, no valor de 250 euros.
Eu, graças a Deus, posso (embora não queira nem deva) comprar um pneu novo de 100 euros. Até poderia pagar (embora não quisesse nem devesse) pagar a multa de 250 euros. Portanto vou agir como se não pudesse, que é o caso da grande maioria dos condutores (e demais pessoas de bem) a quem são impostos regulamentos do Primeiro Mundo, numa realidade do Terceiro: estradas esburacadas que obrigam a manutenção acrescida, preços da manutenção e do próprio cumprimento das normas desconexos com os níveis salariais, e assim por diante.
Isto é mais ou menos a mesma brincadeira do IMI. E se ninguém pagar? Penhora-se 50 mil casas? Apreende-se 50 mil carros? E a populaça, continua a dizer, de ombros encolhidos, "olhe, eles é que mandam" mesmo sabendo que o dinheiro esbulhado nem sequer dura quinze dias nos cofres do Estado, que depressa o rebentará num banquete qualquer?
Bom, era só. Podem vir os anónimos malhar.

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