Gordura

Destak | 28 | 11 | 2012   18.55H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt

No sábado 1 de Outubro de 2011 a Dinamarca foi o primeiro país do mundo a combater a obesidade e doenças cardiovasculares com um imposto sobre a gordura. A taxa de 16 coroas por quilo de gordura saturada em produtos com mais de 2.3% dela, tornava proibitivas manteiga, queijo, carne, nata, batata frita, além de banha e afins. A contribuição recolheu 216 milhões de dólares no primeiro ano, mas terá gerado gastos de 1800 milhões em viagens de gulosos à Alemanha e Suécia para compras.
O orçamento para 2013, aprovado a 10 de Novembro, também sábado, eliminou o controverso imposto pouco após o seu aniversário. O Estado nos países desenvolvidos tem vindo a meter-se nos assuntos mais variados. Sempre cheio de boas intenções, são poucos os campos da nossa vida em que não existe regulamentação, inspecções, políticas. Além disso, é bom lembrar que as au-toridades não conhecem cortesia, persuasão, subtileza. Os meios que usam implicam sempre taxas, multas, inspecções, prisões. A consequência é que vivemos cada vez mais numa sociedade regulada, vigiada, limitada.
Na Europa andar de carro ou avião, construir casa, frequentar escola, até comprar um brinquedo tornaram-se actividades complexas, difíceis, exigentes. Fumar, beber álcool ou comer enchidos são quase actos subversivos. Era evidente que a gordura seria o próximo alvo do Big Brother sanitário. O caso dinamarquês é um surpreendente e louvável recuo desta obsessão regulatória, há muito excessiva. É bom celebrar esta vitória da liberdade que, não só é rara, mas será certamente curta.

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