"O amor como critério de gestão"

Pedro Braz Teixeira, i-online 28 Nov 2012
António Pinto Leite publicou um livro muito promissor, que traz o amor para a gestão
     
No dia 8 deste mês fui assistir a uma apresentação do livro de António Pinto Leite (APL) “O Amor como Critério de Gestão” (2012, Principia, Cascais), no Instituto Adelino Amaro da Costa.
A síntese do livro é apresentada logo no início (p. 9): “Amor ao próximo como critério de gestão significa tratarmos os outros – colaboradores, accionistas, clientes, fornecedores, concorrentes, comunidade, futuras gerações – como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles.”
O texto parte do preceito “O centro vital da ética cristã é o amor” (p. 23) e dos diálogos do autor com Deus: “Que queres que eu diga?” (p. 24). Teve um parto difícil, como é compreensível: “Serei capaz de suportar a exigência que o critério contém? Serei digno de colocá-lo em público?” (p. 26).
É fruto, por um lado, de uma investigação racional, alargada a um conjunto de reuniões de trabalho no âmbito da associação de empresários católicos (ACEGE), referidas no texto, que denota amadurecimento, embora o autor reconheça que está ainda nos primórdios da investigação.
Por outro lado, sente-se uma presença, ainda que contida, do próprio amor nas suas páginas, pela forma muito colorida e diversificada em que as suas propriedades são descritas.
Entre as suas propostas mais interessantes inclui-se a “modificação genética do conceito de lucro”, que passa a poder “ter uma dimensão moral, imaterial” (p. 44). Procura também uma visão alargada: “líderes humanizados fazem organizações humanizadas, organizações humanizadas fazem pessoas felizes, pessoas felizes fazem empresas produtivas, empresas produtivas fazem uma economia competitiva”, “uma economia competitiva é condição necessária de uma sociedade justa” (pp. 53-54). Recomenda que o tema se torne tema de investigação universitária (p. 74).
Esta obra é extremamente genuína e esse sentimento é reforçado pela apresentação que o autor fez no referido instituto. Foram vários os momentos em que APL sentiu necessidade de conter as suas emoções, ora calando--se, ora baixando os olhos. Não estamos em presença de uma mera especulação racional, mais sim perante um verdadeiro e profundo propósito de vida.
No trabalho espiritual que tenho vindo a fazer (sem ligação a qualquer igreja) tenho recebido a informação de que os portugueses vão protagonizar umas Novas Descobertas, desta feita no interior do homem.
APL fala exactamente nisto, em pressentir que há um mundo enorme por explorar no interior das pessoas, em particular no trabalho.
Sinto que APL vai desempenhar um papel muito importante nestes novos descobrimentos portugueses e cheira--me que está neste momento a começar “o” trabalho da sua vida. Tudo o que fez antes foi importante, mas é agora que o melhor de si vai desabrochar, poderá ser um novo Vasco da Gama.
O mais significativo é que APL já está na “onda” certa, sente e vive aquilo que prega, enquanto eu, por exemplo, ainda não cheguei lá. Fiquei curioso de ver chegar o momento em que APL deixe de sentir como necessário o controlo emocional na apresentação destes temas. Quando as suas ideias passarem a ser transmitidas com a fortíssima carga emocional que as anima, vai mexer em muito mais cabeças, e sobretudo vai tocar muito mais corações. Porque APL não é como muitos de quem se pode dizer “Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.”
Gostaria de terminar sugerindo a tradução do livro noutras línguas, porque me parece que ele tem um importante caminho internacional a percorrer. Além disso, também recomendo a divulgação destas ideias nas televisões portuguesas, mas em espaços relativamente resguardados, para preservar a sua essência e delicadeza.
Investigador do NECEP da Universidade Católica
As opiniões expressas no texto são da responsabilidade do autor e não vinculam o NECEP

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