Ouro falso

DESTAK | 07 | 11 | 2012   19.19H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt

É tão fácil enganar com números! Há um mês saiu a espantosa novidade que a nossa balança comercial estava equilibrada. Na economia tudo vai mal, mas ao menos nas exportações as coisas iam de vento em popa. Ainda a tinta não estava seca nessa notícia e surgia logo outra: «Cerca de um décimo do crescimento das exportações (9,15%) resultou este ano de vendas de ouro» (Lusa, 23/Set).
Desde então toda a gente sabe que afinal a melhoria das exportações é só venda de ouro. O próprio texto mostra como a dedução é tola: «Nos primeiros sete meses de 2012, Portugal exportou 26 914 milhões de euros em bens. Este valor é superior em 2193 milhões ao que se registou no mesmo período do ano passado (subida de 8,9%; valores nominais). Ora, nos primeiros sete meses de 2012, as exportações de ouro portuguesas ascenderam a 455,9 milhões de euros. Comparando com o mesmo período de 2011, Portugal vendeu mais 201 milhões de euros em ouro.»
Segundo os próprios números apresentados, as vendas de ouro representam apenas 1,7% do total das exportações, um valor minúsculo, sem qualquer significado. Se eliminarmos o ouro, a taxa de crescimento das exportações continua a ser de 8,1%, bastante semelhante à registada. Ou, melhor, exactamente a 90% da anterior pois, como diz a notícia, o ouro é um décimo do crescimento, e um décimo de 8,9% é só 0,89%.
Assim se cria um engano. A notícia é totalmente verdadeira, mas conseguiu passar uma ideia falsa, que toda a gente repete desde então. Deve haver uma regra jornalística que obriga a destruir qualquer boa notícia.

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