Verdade e mentira
POVO 27.09.16
"Para a mentira ser segura
E atingir profundidade
Tem de trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade"
António Aleixo
poeta popular algarvio(1899-1949)
A declaração do sr. primeiro-ministro sobre o que ele entende por uma sociedade decente deu origem a mais uma polémica acerca do caminho que o nosso país está a trilhar. João Carlos Espada no seu artigo de ontem desmonta com muita categoria a falácia da enorme generosidade da frase "cada um contribui para o bem comum de acordo com as suas capacidades, e cada um recebe de acordo com as suas necessidades". Do outro lado e em tom de chacota, apesar de achar que os académicos como ele "devem contribuir para o contexto e a inteligibilidade do discurso na nossa sociedade" Rui Tavares entre várias considerações de interesse público mais que duvidoso, atribui a mais antiga autoria daquela frase a Jesus Cristo na parábola dos Talentos.
Não está mal para um historiador moralista que acusa os outros de fracas fontes de informação: fica aqui a parábola dos talentos como aparece em Mateus 25, 14-30. O contexto é a explicação do Reino dos céus recorrendo a várias analogias. Nesta, há uma clara chamada à liberdade e responsabilidade pessoais: claramente o oposto da frase que Rui Tavares lhe atribuiu. Há qualquer coisa de verdade, contudo, como avisa o poeta Aleixo: a primeira metade da frase. De facto, o versículo 15 explica que os talentos foram dados a cada um "conforme a sua capacidade".
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