Meu Deus

Inês Dias da Silva
20160923

Subiu ontem à cena e fica até dia 9 de Outubro, no teatro Tivoli, a peça Meu Deus, onde assistimos a um encontro entre Deus e uma mulher. Ao contrário do que ela própria julga, ela não morreu e foi para o céu, mas foi antes Ele, o Criador, que veio ao seu encontro para uma sessão de psicoterapia.

Na sinopse que se encontra nas várias publicidades, descreve-se este encontro como uma fantasia, algo insólito, improvável e inusitado. Mas o diálogo é tudo menos isso. Na troca acesa de palavras, no ajuste de contas de momentos passados na vida dela, e do início do mundo, da criação do homem e na sua sempre violenta relação com Deus, transparece o desejo de amor de cada um pelo outro.

'Deus mendicante do coração do homem, o homem mendicante de Deus'. (Luigi Giussani)

Na hipótese de um Deus deprimido e solitário, que perdeu a sua força e os seus dons, a psicóloga Ana tenta mostrar-lhe que, se trata os homens com a violência correctiva que a Bíblia conta em tantos episódios, como pode esperar que O cheguem a amar? Uma conversa fantasiada, mas que levanta perguntas cuja resposta queremos todos saber, e muitas vezes não temos coragem de perguntar. Porque é que Deus permite o mal, o sofrimento, a doença? Onde está a misericórdia de Deus num mundo onde acontecem desastres naturais e os homens fazem a guerra. Porque é que é não ouvimos a Sua voz?

A resposta esconde-se numa terceira personagem. Não tem falas, entra e sai sem deixa ou regra, uma personagem que é dependente mas é Homem, que é pobre mas é Criatura gerada daquele gesto de amor,  retratado por Michelangelo no teto da capela Sistina. E agora que se voltam a encontrar, é possível voltar a reconhecer o Dom que é a vida gerada em cada instante, e tudo ganha a beleza original, e tudo o que é desejo verdadeiro concretiza-se, como uns pingos de chuva num dia de calor.

Vale a pena ir ver, pelo texto e pela actuação de Irene Ravache, que é imaculada. 

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