Trágica mansidão

JM Ferreira de Almeida

Quarta República,  30 de setembro de 2016

Um país que não se interroga sobre o que justifica ou o que move o presidente do sindicato dos trabalhadores dos impostos na defesa do diploma, hoje vetado pelo PR, sobre a quebra do sigilo bancário, é uma sociedade que se conforma com tudo o que os poderes lhe infligem. 
Pensava eu que não passava despercebido a ninguém que os sindicatos, ainda que nalguns casos constituam consabidamente a infantaria do PC, veem juridicamente limitada a sua ação pela defesa dos interesses profissionais dos seus associados. Ou seja, está-lhes vedado o envolvimento no exercício da função política designadamente quando querem condicionar o legislador em matéria que nada tem que ver com direitos e deveres laborais. Mas não é assim, e o Senhor Ralha é sempre solicitado pelos media para opinar sobre a bondade da opção do legislador em matérias constitucionalmente reservadas à Assembleia da República e em domínios que têm que ver, e só, com o sistema fiscal. Não emite opinião como cidadão, tendo naturalmente direito a ela e a exprimi-la. Fá-lo em nome e representação dos trabalhadores da AT. Como em nome dos funcionários dos impostos fala sobre a moral e a ética no exercício das funções pelos governantes, como aconteceu com o secretário de estado do governo anterior que acusou de delito grave, ou do atual secretário de Estado Rocha Andrade que absolveu no caso da aceitação do convite da GALP para assistir a jogo de futebol.
Este desvelo pela devassa do capitão do sindicato dos trabalhadores dos impostos - cuja representatividade efetiva se desconhece, mas que calculo que surpreenderia muitos se fosse revelada -, faz refletir sobre o que realmente move os dirigentes sindicais nesta campanha pelo acesso quase incondicionado de funcionários da AT às contas bancárias dos contribuintes. Mas faz também pensar no que pode explicar a atração dos media por esta e outras criaturas, sem que a estes ocorra que reais interesses os fazem defender o que defendem.

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