Diz-me com quem andas

MIGUEL ALVIM 
Público 24/09/2016

Um programa paupérrimo e desonesto, que compromete o nosso futuro colectivo.

A frase-chave que sustenta a geringonça da esquerda a voar baixinho desde a noite das últimas eleições legislativas tem direitos de autor.
Disse na ocasião o líder dos comunistas: "Neste novo quadro político, o PS só não forma Governo porque não quer. Nada o impediria de se apresentar disponível (…)", salvaguardando ser necessário, por parte dos socialistas, uma "vontade de ruptura com a política de direita".
Há dias, na Festa do Avante, o partido comunista esclareceu aquela frase para a geral em dois pontos para quem tivesse dúvidas:
  1. O actual quadro político traduziu-se não na formação de um Governo de esquerda, mas sim na formação e entrada em funções de um Governo minoritário do PS, com o seu próprio programa.
  2. A nova relação de forças no parlamento permite ao PCP e ao PEV condicionar decisões e serem "determinantes e indispensáveis à reposição e conquista de direitos".
O Bloco de Esquerda (a outra peça do mecanismo) subscreve a todos os títulos e literalmente por baixo, na disputa política em curso do óscar pelo melhor actor do condicionamento das decisões.
Do tipo “um diz mata e o outro diz esfola”.
O plano de voo da geringonça metia dó de tão simples e pobrezinho (na visão que o PCP e o BE têm do povo de que “para quem é, bacalhau basta”)
Levava inscrito à cabeça a reposição de salários e pensões, o controlo público da banca e a reversão de vários processos de privatização de empresas estratégicas.
A qualquer preço, sem pensar no futuro colectivo de Portugal e dos Portugueses, porque sim.
Projectava o aumento do salário mínimo nacional para 600 euros (não interessa saber como suportar esse aumento).
Alargava-se depois a várias fantasias mais ou menos descabidas, como a renegociação da dívida externa e o abandono de Portugal da moeda única.
No fim a abjecção de borrifar sobre as massas iliteratas e acéfalas um poderoso opiáceo: todas as causas fracturantes em cima da mesa já!
O resto é nada de nada ou o mote de que a crise a paguem os ricos ou que a pague a Igreja ou pura e simplesmente que a paguem os outros.
Nada sobre o bom funcionamento da economia.
Nada sobre investimento estrangeiro.
Nada sobre a diminuição da obscena carga fiscal que sobrecarrega as classes médias e pesa sobretudo sobre o sector privado.
Bem pelo contrário, com a ameaça da sobrecarga fiscal no imobiliário.
Nada sobre a liberdade de educação.
Nada sobre mérito e responsabilidade.
Nada sobre boas regras e sãos deveres.
Nada sobre reforma do sistema político.
Nada sobre a reforma do caríssimo e despesista mapa autárquico.
Só direitos.
Um programa paupérrimo e desonesto.
Ao serviço de uma agenda tipicamente corporativa de quem vive do domínio e da usura do Estado e do sector público.
Que compromete o nosso futuro colectivo.
E, já agora, que no caminho matou o compromisso e a moderação.
Compromisso e moderação a que o PS nos habituou.
Uma agremiação que agora e para futuro só pode resvalar politicamente para a mais funda irrelevância.
E Costa?
Costa realmente não é moderado, nem socialista.
Trabalhou com Sócrates.

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