O dono do CCB

Nuno Saraiva
DN 2016.03.03

Não há nada mais pleonástico do que a dança de cadeiras de cada vez que os governos mudam. Os ministros entram e saem e, com eles, muda o pessoal político em todos os patamares da administração pública. Daí que a substituição de António Lamas por Elísio Summavielle à frente do Centro Cultural de Belém (CCB) não seja, de todo, uma novidade ou sequer uma aberração. Se olharmos para o cadastro de todos os governos, comprovamos que o que não falta são histórias de deserdados de uns e alcandorados de outros. Quando se aceita lugares de confiança política é preciso ter absoluta consciência de que esta pode extinguir-se a qualquer momento e, com isso, cessam as condições para prosseguir nos lugares. Claro que tudo seria diferente se a escolha das administrações de institutos públicos como é o caso do CCB fosse feita por concurso com óbvios ganhos de transparência e de meritocracia, sacrificando-se - e bem - a tradicional cultura do cartão partidário. Porém, o que está em causa neste episódio triste é o modo como tudo aconteceu. João Soares, o ministro da Cultura, tinha todo o direito - e até o dever, se entendesse que estava em causa a defesa do interesse público - de afastar o presidente do conselho de administração do CCB. O que é censurável é o modo escolhido para o fazer. É certo que ainda não conhecemos o contexto em que tudo se passou. Mas não é preciso saber tudo para reconhecer que um ministro não destrata em público um funcionário comportando-se como se fosse o "dono" da Cultura. Aquilo que se passou foi um ato desnecessário de prepotência e de humilhação gratuita que só desqualifica João Soares - "Eu acho que o presidente do CCB tem de sair. E se não sair, eu, na segunda-feira, seguramente o demitirei, usando os instrumentos legais de que disponho" -, que, até pela formulação usada na Assembleia da República, sabia de que dispunha de instrumentos legais para proceder à substituição do presidente do CCB. Bastava ter tomado a decisão no recato do gabinete. O ministro, que é da Cultura, preferiu dar espetáculo. Triste. E foi pena.

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