O futuro Made in Portugal

Stephan Morais
Observador 29/3/2016

Portugal, integrado na União Europeia, e apesar de muitos portugueses não terem essa consciência, é hoje em dia uma das mais avançadas economias do mundo - e será ainda mais no futuro.

Nos últimos anos assistiu-se em Portugal a uma verdadeira revolução de inovação, em particular em novas empresas dedicadas à tecnologia – as startups. De uma posição de partida de praticamente inexistência, passámos para um país onde as startups fazem capas de revistas e onde proliferam em todo o país incubadoras e aceleradoras de empresas. É um movimento que, apesar de ser em parte uma moda, é muito benéfico para um país que em geral tem baixa auto-confiança e pouca visibilidade positiva internacional. E, na realidade, algumas startups portuguesas começam já a conseguir angariar dezenas de milhões de euros junto de investidores internacionais (e nacionais) tanto em Londres como em Silicon Valley, algo inédito na história económica de um país tradicionalmente avesso ao risco.
Farfetch, Talkdesk, Outsystems, Uniplaces, Feedzai, Seedrs e Veniam, em particular, são exemplos disso mesmo e muito provavelmente outras conseguirão atingir patamares semelhantes. Este movimento deve-se essencialmente à existência de uma geração altamente qualificada, global e sem complexos de partir à conquista do mundo desde Portugal. Deve-se igualmente à existência de um conjunto de atores que têm evoluído em paralelo e que têm contribuído para o crescimento do “ecossistema” de inovação empresarial – universidades, aceleradoras, incubadoras, business angels e fundos de venture capital. Portugal é hoje em dia considerado internacionalmente como parte do grupo de 15 ecossistemas de referência na Europa.
Na base deste movimento global está uma revolução, por vezes apelidada de 4.ª revolução industrial. Embora a indústria propriamente dita ainda não tenha sido profundamente afetada pela revolução em curso, em breve sê-la-á quando máquinas, produtos e sistemas de informação estiverem em permanente comunicação. Isto porque a evolução tecnológica a que estamos a assistir está a propagar-se logaritmicamente, ou seja, a uma velocidade crescente. Embora a maioria das pessoas possivelmente não note mais do que o facto de que ter um smartphone lhe mudou alguns hábitos, a realidade é que em muitas áreas e em particular em alguns países as mudanças começam a ser significativas e profundas.
Em grande parte, esta nova era, caracterizada por uma enorme expansão global da Internet e em paralelo pelo aparecimento de smartphones possibilitou o desenvolvimento de aplicações (software) que vieram transformar o dia-a-dia de quem as utiliza. As redes sociais que promovem um contacto digital entre os seus utilizadores explodiram e a forma de interagir entre as pessoas nunca mais foi a mesma, o que está a gerar uma revolução sociológica irreversível.
Outra das grandes consequências da explosão de aplicações foi o aparecimento de serviços online e mobile que vieram revolucionar progressivamente inúmeras indústrias. Sendo o caso mais conhecido a Uber, que tem vindo a revolucionar mundialmente o sector dos transportes terrestres, têm vindo a surgir nos últimos anos inúmeros serviços online que estão a revolucionar todas as indústrias possíveis, desde uma simples compra de bilhetes ou entrega de comida em casa, até à contratação de recursos humanos para limpezas ou a resolução em crowdsourcing de grandes problemas científicos internacionais. De repente, não só é fácil saber respostas a todas as perguntas que possamos imaginar no Google ou na Wikipedia, mas passou a ser fácil encontrar uma solução online para nos facilitar a vida pessoal e profissional. Os bancos, por exemplo, nos mercados mais avançados estão a começar a perder quota de mercado significativa para as empresas de fintech em todos os seus produtos de valor acrescentado, desde a concessão de empréstimos e troca de divisas, às soluções para meios de pagamento e em produtos financeiros como factoring, leasing e outros. O mesmo está a acontecer em todas as indústrias, ainda que muitos consumidores e empresas não se tenham apercebido ainda.
Esta é a parte ainda assim visível da nova economia, mas há muito mais a acontecer. Por detrás de todas as interações que temos online, há uma recolha de dados (big data) constante por parte das aplicações que usamos e é aí que entra uma das grandes evoluções a que estamos a assistir. A análise desses dados não só possibilita a criação de novos serviços e modelos de negócio, como permite que programas especialmente desenhados para o efeito aprendam com a análise dos dados (machine learning) e possam essencialmente prever comportamentos futuros e propor novas soluções e serviços à medida do consumidor ou da empresa. Para dar um exemplo prático, a empresa portuguesa Unbabel consiste num serviço de tradução de conteúdos online onde essa tradução é inicialmente feita automaticamente pelo software da empresa, posteriormente corrigida por um de entre as dezenas de milhares de tradutores humanos especialistas associados à empresa espalhados por todo o mundo e, finalmente, o software integra essas correções automaticamente ficando assim cada vez mais perfeito para futuras traduções. O serviço fica muito mais barato do que uma tradução puramente humana, é rápido e cada vez melhor. Em virtualmente todas as indústrias algo semelhante está a acontecer.
Mas não é só na internet e na robotização que estamos a assistir a uma evolução exponencial. O sector provavelmente com maior impacto potencial futuro literalmente na vida das pessoas é o da biotecnologia. Sistematicamente têm vindo a ser aprovadas pelas entidades reguladoras mais avançadas novos ensaios clínicos, medicamentos e terapias que se propõem resolver as maiores causas de morte a nível mundial, nomeadamente o cancro, doenças cardíacas e degenerativas. A descodificação do genoma humano veio permitir avanços enormes na descoberta de soluções potenciais para todo o tipo de problemas de saúde e mais uma vez a velocidade com que estes avanços se estão a processar é tal que se espera que a esperança média de vida suba muito significativamente nas próximas décadas.
Portugal, integrado na União Europeia, e apesar de muitos portugueses não terem essa consciência, é hoje em dia uma das mais avançadas economias do mundo, e será ainda mais no futuro devido também à ciência e inovação próprias que começam a ser uma referência internacional. O Made in Portugal também está a criar o futuro que se aproxima de nós a alta velocidade.

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