Gänswein: “Com 89 anos, Bento XVI ainda lucidíssimo e cheio de humor…”

Zenit 24 MARÇO 2016

O prefeito da Casa Pontifícia fala de um papa emérito que tem uma “vida de monge”, mas continua a receber visitas, ler e tocar piano

Uma ampla entrevista com o prefeito da Casa Pontifícia e secretário do Papa Bento XVI foi publicada hoje na Itália com fotos inéditas dos seus passeios nas montanhas de Abruzzo. “Me mantenho em forma com passeios e caminhadas no Velino ou no Gran Sasso”, diz monsenhor Georg Gänswein, que admite as suas duas “fraquezas”: “Sou muito guloso por doces e tenho uma quantidade limitada de paciência. Mas me esforço constantemente por melhorar”.
Disponível e afável, monsenhor Gänswein remonta 21 anos de colaboração com o papa emérito, sem esquecer a tristeza pelas acusações “infundadas contra o Pontífice”, o espanto pela renúncia de Bento XVI, a dor pelo escândalo do Vatileaks. Ele afirma: “Em abril, o Papa Bento XVI celebra 89 anos: é como uma vela que lentamente e serenamente vai se apagando, como acontece com muitos de nós. Está sereno, em paz com Deus, consigo mesmo e o mundo. Se interessa por tudo o conserva o seu humor fino e sutil, com o qual sabe “dar sabor”. Conservou uma grande paixão pelos felinos. Nos nossos jardins, vivem Contessa e Zorro, dois gatos que muitas vezes vêm “cumprimentar” o Papa emérito”.
O arcebispo alemão fala, pela primeira vez, do seu equilíbrio interior sabiamente encontrado entre corpo e alma: “O verdadeiro segredo para permanecer em forma é viver uma existência ordenada, tanto fisicamente quanto espiritualmente, e ter uma bússola para seguir, com todas as dificuldades e os fracassos humanos que obviamente existem”. Uma vez por mês, com alguns amigos sacerdotes, vai a Abruzzo, para caminhadas ou esquiar. De pequeno o seu sonho era o de se tornar como Beckenbauer. Hoje, que tem menos tempo para praticar esportes, conserva, porém, intactos os seus ensinamentos: “Jogar numa equipe te ensina a importância das regras e exigência de respeitá-las”.
Em uma série de declarações feitas de coração aberto, monsenhor Gänswein não esconde nem mesmo a história da sua vocação. “Não tive uma iluminação especial – confia – não foi uma revelação, um acontecimento deslumbrante. Até os 17 anos não tinha nenhuma ideia de me tornar sacerdote. Depois da maturidade senti a necessidade de encontrar o sentido da vida. Por isso decidi estudar filosofia e teologia na Universidade. Depois, com a ajuda de um sacerdote, compreendi que a vida pede o seu preço e entrei no seminário”. Até chegar a 1995, quando, durante um café da manhã no Colégio Teutônico de Roma conheci o então cardeal Ratzinger. “Era uma manhã de quinta-feira, quando tive o primeiro encontro “pessoal” com o futuro papa”, recorda. “Depois, pelo final de 1995, me pediu para me tornar colaborador da Congregação para a doutrina da fé, da qual era o Prefeito. Desde aquela época, trabalho com Joseph Ratzinger”.
Monsenhor Gänswein repercorre estes 21 anos e admite: “Fiquei triste com os múltiplos ataques ao Papa Bento. Quantas vezes tive que ouvir e ler que Ratzinger não reagiu de forma satisfatória contra a pedofilia, enquanto que foi justamente ele, já como cardeal, que começou a combate-la. Quantas críticas, acusações e calúnias infundadas com relação a ele também em outras circunstâncias! Isso me machucou. Depois houve o caso Vatileaks: Me senti pessoalmente atingido porque fui eu que dei total confiança a uma pessoa que o traiu sem escrúpulos”.
Caso único na história da Igreja, o Arcebispo alemão colabora simultaneamente com dois Papas. Deles diz: “São diferentes nos seus caráteres, nas personalidades e também no modo de comunicar e de relacionar-se. Para mim, viver com o Papa Francisco é um estímulo: ele procura o contato direto, até mesmo físico, acaricia e se deixa acariciar, superando assim as distâncias pessoais. O Papa Bento, por outro lado, é mais reservado: acaricia com as palavras, mais do que com os abraços. São duas personalidades diferentes, mas a coisa mais importante é que ambos são autênticos, não procuram “copiar” ninguém”.
Um último pensamento é sobre a renúncia de Bento: “Eu sabia há muito tempo, a sua decisão não foi repentina, mas amadureceu gradualmente e com cuidado. Para mim, foi difícil de digerir esta decisão e manter o segredo”. Tentou fazer com ele mudasse de ideia, admite: “tentei remar contra e fiz algumas propostas práticas para facilitar o exercício do seu ministério petrino. Mas desisti, quando compreendi que Bento não tinha me confidenciado um pensamento hipotético, mas uma decisão definitiva”.
Hoje, como está Bento? “Ele é um homem ancião, é claro, mas é lúcidíssimo; Infelizmente, a caminhada tornou-se cansativa, por isso usa um andador. Mantém uma correspondência bastante ampla, mas não escreve mais livros, se limita a ditar cartas à sua secretária. Intencionalmente leva uma vida monge, mas não está de forma alguma isolado: reza, lê, ouve música, recebe visitas, toca o piano”.

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