O mistério da morte e a bondade da tristeza
José Luís Nunes Martins | RR 20160319
A morte, a dor e o sofrimento têm um sentido. Ainda que não se consiga saber qual. A nossa incapacidade de compreender não significa ausência de significado.
Se muitos lamentam não estar no mundo daqui a 100 anos, poucos se entristecem por não ter estado aqui há 100 anos. Quase ninguém se preocupa em saber em que mundo estava antes de estar neste… mas a dúvida sobre onde estaremos depois desta vida é fonte de grandes angústias.
Todos os dias acordamos diferentes. O sono e os sonhos que separam um dia do outro podem ser a imagem do que separa esta vida da outra. Assim como há uma linha de continuidade entre a pessoa que adormeceu e aquela que acorda, também haverá consistência e coerência consciente entre aquele que morre e aquele depois deve renascer. Não com perda do que foi, nem memória do que fez… antes sim, a mesma pessoa, diferente apenas… melhor.
É boa a profunda tristeza que acompanha a inevitabilidade da morte, é sinal de que a vida tem um valor imenso.
O silêncio faz muito bem ao coração. Que as lágrimas da tristeza nos ajudem a começar uma vida nova, de cada vez que um pedaço desta vida se perde! Por mais que soframos, encontraremos sempre um momento em que é possível erguermo-nos... Nessa altura, devemos levantar-nos e ir em busca do que é nosso. Do que é de cada um. Do que somos. Do que de melhor podemos ser.
Não queiras que a paz chegue no mesmo dia da tormenta. Importa aprender a esperar com paciência, na sábia humildade de reconhecer que é muito mais o que nos ultrapassa do que aquilo que depende apenas de nós.
A morte e o amor são apenas portas encostadas. Não estão fechadas! É preciso parar e acreditar... tocar, bater... entrar. Estas portas esperam por alguém que passe por elas e saia do seu mundo e entre noutro… que vá mais além do que é. Muito mais além.
Se não conheces aquilo em que acreditas, porque não acreditas que há mais do que aquilo que sabes?
(ilustração de Carlos Ribeiro)
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