Os lugares à mesa e o lava-pés

em Vida de Cristo (G. Riciotti, 1951)  
A Semana da Paixão. A Quinta-Feira

Tinha pois começado a ceia mas nem todos os convidados estavam plenamente satisfeitos. Não seriam homens da sua nação e do seu tempo se alguns deles não se tivessem mostrado descontentes com o lugar que ocupavam à mesa, desejando um mais honroso. Aquela boa gente tinha toda grande estima por si própria, “e houve ainda uma grande discussão entre eles, a respeito de qual deles parecia ser o maior” (Lc 22, 24). A questão não era nova, mas uma vaga alusão de João (13, 2-5) poderia fazer suspeitar que, desta vez, a discussão seria provocada por pretensões de Judas Iscariotes. Justamente o traidor teria suscitado o ciúme dos outros Apóstolos, pretendendo um dos lugares mais honoríficos, e isso conforme a um fenómeno frequente nos traidores, que, levados pela dissimulação, pretendem preferências e atenções especiais.
Àquela cena vergonhosa, Jesus deve ter respondido com palavras semelhantes àquelas com que já reagira às outras questões de preeminência que no passado tinha havido entre os Apóstolos, mas desta vez, quer acrescentar ainda uma resposta com factos (Jo 23, 4 e seg.). Vendo que, não obstante as suas exortações à humildade, o resmungar barulhento daquela gente grosseira não cessava, Ele levanta-Se do seu divã, depõe as vestes, cinge-Se com uma toalha e, tomando uma bacia com água, começa a lavar os pés aos comensais. Os mais humildes escravos é que eram encarregados deste ofício, que era facilitado por os comensais estarem estendidos nos divãs, com o busto inclinado para a mesa e os pés caídos para a parte de fora. Ao verem o Mestre humilhando-Se àquele serviço, os Apóstolos ficaram interditos e, aceitaram passivamente a lavagem como uma humilhação. Nem sequer Judas ousou protestar.
Só Pedro, que foi provavelmente o primeiro a quem Jesus Se dirigiu, protestou, dizendo: Senhor! Tu lavas-me os pés? - E Jesus: Aquilo que Eu faço não o conheces tu agora, hás-de sabê-lo em seguida. - Mas Pedro não cede: nunca por nunca me lavarás os pés! - Jesus replica: Se não te lavar, não terás parte comigo. - Ao ouvir esta resposta, o impetuoso Pedro salta para o outro extremo: Senhor! Lava-me não só os pés, mas também as mãos e a cabeça! - Então concluiu Jesus: Quem se lavou não tem necessidade de lavar-se (senão os pés) mas está inteiramente limpo. E vós estais limos, mas não todos.
Terá Judas estremecido a esta alusão? Talvez não. O traidor devia contentar-se com ver que a traição continuava ainda oculta aos seus companheiros. Mas as coisas não acabaram aqui.

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