Já se pedem cabeças

Joana Petiz
DN 20160304

Havia um plano que tinha tudo para correr bem. A ideia não era mexer no que ali havia de bom, mas sim desenhar um roteiro que ligasse os pontos altos da zona, criasse uma lógica comum capaz de atrair e fazer ficar mais tempo quem por ali passasse, poupasse custos e tornasse a área mais jovem e atraente. A ideia correu realmente bem: em oito anos, o número de visitas triplicou e as receitas passaram de dois para 17,6 milhões de euros.
Foi de tal maneira positivo que o trabalho deu nas vistas e o seu principal impulsionador foi convidado a copiar aquele modelo noutras paragens. E assim, no eixo Belém-Ajuda, riquíssimo em monumentos, museus e outros locais de interesse, iria nascer um polo cultural tão conhecido e oleado como aquele que fora feito, bem feito, nos Parques de Sintra - Monte da Lua.
O problema - há sempre um, quando tudo parece correr bem - foi que alguém se lembrou de repente de que aquilo "era um disparate total". E arrancou a válvula fazendo ir pelo cano os projetos entretanto pensados e os investimentos que foram ganhando forma ali ao redor.
Num estalar de dedos, foi-se o plano e foi-se o homem responsável por o traçar. Sem que pudéssemos sequer entender se o "disparate total" era pensar que se queria fixar mais turistas em Belém ou dar viabilidade aos projetos turísticos nascidos ali à volta ou até gerar mais negócio e mais receitas para a cidade. O único argumento conhecido: o projeto não envolvia, como deveria, a Câmara Municipal de Lisboa. Os menos preparados nestas lides poderiam até pensar que o que fazia sentido, então, era criar essa ligação, trazer Fernando Medina para a mesa, mostrar-lhe os planos, pedir-lhe sugestões. Mas não: cortar o mal pela raiz era a única coisa a fazer. Pelo menos na ideia do ministro da Cultura, João Soares, que deixou sem chão muitos grupos ligados ao turismo, que já planeavam investimentos - leia-se, preparavam-se para gastar dinheiro na cidade, no país, para atrair mais turistas que, também eles, comprariam, consumiriam, ficariam e recomendariam o destino a outros - a contar com a evolução há muito esperada. Resumidamente, é esta a história da petição que pede a demissão de João Soares e que, em dois dias, soma 11 mil assinaturas. Bastavam quatro mil para o assunto ser discutido em plenário.

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