A Europa é de Marte

João Pereira Coutinho
Correio da manhã 29.05.2016

Perante o desprezo das elites, o povo vota com medo e fúria. 

A Áustria preparava-se para ter como presidente uma figura da extrema-direita. Não aconteceu: Norbert Hofer perdeu por uma unha mas a revista ‘The Economist’ não festeja o resultado. Da França à Holanda, da Suíça à Dinamarca, parece que a velha besta está de volta. Surpresa? Nenhuma. Passei uns dias em Budapeste, onde Viktor Orbán é rei e senhor. E, nas conversas banais, encontrei um apoio ao primeiro-ministro que assenta em três paixões: a) Orbán não é lacaio de Merkel; b) com moeda própria, a Hungria não depende dos humores do euro; e c) as fronteiras do país estão fechadas para ‘estrangeiros’ (leia-se: refugiados muçulmanos). Entendo que as elites europeias não se misturem com a opinião do vulgo, ignorando olimpicamente os medos reais de gente real. Só não entendo é o espanto das mesmas elites quando, na solidão da cabine, o povo vota com esse medo – e muita fúria.

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