A Solução é o Amor

A Batalha |  | 
Antes de mais deixem-me que vos diga que nutro um bastante cepticismo nas tão propaladas políticas de incentivo à natalidade. Como o comprovam as estatísticas nos restantes países europeus, não creio que a solução para o inverno demográfico resida em mais ou menos substanciais apoios fiscais ou outras medidas de discriminação positiva para os casais com mais filhos. Para além de intrinsecamente justos, não produzem significativas alterações a uma realidade com tão profundas raízes culturais.
Irónico é como a "revolução demográfica" (enorme aumento da natalidade e longevidade) ocorrida na Europa entre os Séc. XVIII e XIX com origem no desenvolvimento da agricultura, numa melhor alimentação e nos avanços da medicina, tenham confluído no desenvolvimento socioeconómico e científico que por sua vez proporcionaram nos anos sessenta do século passado a descoberta da pilula contraceptiva. Esse prodígio da ciência vem resultar numa travagem a fundo no baby boom do pós-guerra e é, no final de contas, a génese da crise demográfica com que nos debatemos por estes dias e se confunde com a decadência do nosso modelo de sociedade. Paralelamente, este fenómeno é o culminar dum longo e continuado processo de emancipação feminina, em que a mulher vê finalmente a sua sexualidade "liberta" do cativeiro da maternidade, do estatuto de mãe, que nos nossos tempos perde progressivamente prestígio, adquirindo até uma conotação negativa entre as elites dominantes. Ora o problema é que, com a água do banho, literalmente despejou-se o bebé pela janela fora da nossa civilização.
É por essa via que nos vemos chegados ao modelo cultural marcadamente estéril da actualidade, da cosmopolita e próspera família monoparental e do filho único, integrado numa cultura hedonista e securitária em que qualquer prenúncio de imprevisibilidade é ameaça, e nesse sentido vai ganhando contornos eugenistas. Somos todos mais felizes?
Perante o atrás descrito, estou convicto que a solução da crise demográfica exige uma revolução, no sentido etimológico de retorno ao ponto de partida: aos valores que recuperem os ancestrais modelos de organização familiar e a consequente devolução do prestígio da maternidade como realização do Amor pleno, inteiro. A defesa duma ecologia que devolva o apreço pelos sinais da natureza, mas desta vez humana, dos seus ciclos e impulsos biológicos, naturais e legítimos; enfim que exalte a dignidade e honorabilidade de uma família grande em generosidade. A resolução do problema demográfico está afinal na reabilitação do… Amor.
Estas linhas não servem para fazer qualquer juízo sobre os princípios ou circunstâncias que presidem as escolhas de cada indivíduo ou casal – se assim fosse elas constituíam em certa medida um exercício de autocrítica. Por certo que o facto de ter muitos, poucos ou nenhuns filhos não qualifica à partida uma mulher ou um casal. Mas nestes nossos tempos ninguém deveria sentir-se melindrado por se propagandear, bem-dizer e abençoar as famílias grandes…

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