Química
D. Nuno Brás | Voz da Verdade | 9.03.2014
Está hoje na moda entre os jovens (e menos jovens) chamar “química” à atração física que alguém sente por outro. Não sei as origens desse costume. Mas sei que ele trouxe consigo duas realidades que não deixam de me preocupar.
Em primeiro lugar, o facto de reduzir as relações humanas a uma reação química. Ao início, o uso da expressão parecia ser uma simples comparação: tal como dois reagentes dão origem a uma realidade nova, assim também os apaixonados deixavam que nascesse o amor entre eles. Mas daqui já se foi mais longe, e hoje já nos encontramos no campo da afirmação da pretensa realidade (ainda há dias encontrei alguns estudantes do ensino secundário que pensavam deste modo), ou seja: a paixão e o amor mais não seriam que o fruto de uma reação química que existiria no nosso corpo, provocada pela presença daquele outro ser. Assim como dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio juntos dão lugar à água, assim os seres humanos inevitavelmente se sentiriam impelidos um para o outro. Tudo, mesmo as relações entre seres humanos passaria a ser comandado pela inevitabilidade. Talvez mesmo algum cientista tenha a pretensão de descobrir a lei que comanda essa “química”…
Depois, aquilo que à primeira vista seria um “ato de liberdade”, ou mesmo de “libertinagem” (contra os tabus e as regras da sociedade), mais não seria que, afinal, uma inevitabilidade química. A liberdade, a generosidade, o amor seriam apenas grandes mentiras em que viveríamos. Entre seres humanos, afinal, mais não existiria que, como nos outros animais, o inevitável instinto. Toda a história universal, todas as construções, todo o altruísmo, tudo o que nos permite decidir e ser responsáveis, mais não seria que fruto de uma reação química. E o mesmo se diga de tudo o que é aberração: todos os monstros ditadores; todos os criminosos mais ou menos comuns, afinal não seriam responsáveis pelos seus atos… Seria apenas “química”!
Mas não percebemos que nos encontramos à beira do abismo e da auto-destruição? Não tenho dúvidas que a humanidade será capaz de reagir. Mas, até lá, muitos (sobretudo jovens) se perderão pelas veredas deste caminho educativo, mais ou menos espalhado pelas nossas escolas. E desses havemos de responder, por não os termos ajudado a olhar a beleza do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus!
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