Morreu o Padre Miguel Ponces de Carvalho
Morreu o formador de estudantes católicos
Assistente religioso da Juventude Universitária Católica (JUC), ajudou a formar várias gerações de estudantes, entre as quais António Guterres, Roberto Carneiro, Pedro e Helena Roseta, Carlos Marques e José Leitão.
José Pedro Castanheira Expresso, 18:55 Segunda feira, 31 de março de 2014
A Basílica da Estrela, em Lisboa, encheu-se para uma última homenagem ao padre Miguel Ponces de Carvalho, que foi assistente religioso da Juventude Universitária Católica durante os anos sessenta e setenta. Falecido no dia 29, a missa de corpo presente, realizada ao princípio da tarde de 30, foi presidida pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
Licenciado em Biologia, com estudos em Medicina, melómano apaixonado e pianista, ajudou a formar várias gerações de estudantes universitários católicos, entre os quais se incluiu o ex-primeiro-ministro António Guterres, os ex-ministros Roberto Carneiro (Educação), Pedro Roseta (Cultura) e Amílcar Teias (Ambiente), ou o ex-candidato presidencial da UDP, Carlos Marques. Privaram ainda com o "padre Miguel", como todos o conheciam e gostava de ser tratado, o ex-alto comissário para a imigração, José Leitão, o cirurgião Queirós e Melo, o ensaísta e professor Onésimo Teotónio Almeida, a ex-vereadora Helena Roseta e nomes ligados às tecnologias, como José Tribolet e Manuel Collares Pereira.
Nascido na Guiné (Bolama), em 1931, viveu ainda na Rodésia do Sul (atual Zimbabwe) e chegou a Portugal com 8 anos. Frequentou o Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, e ingressou na Faculdade de Medicina, ao mesmo tempo que aderia à Juventude Universitária Católica (JUC). Não chegou a concluir o curso porque entretanto decidiu ingressar no Seminário dos Olivais. Foi ordenado sacerdote pelo cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira, em 1958. Professor de Religião e Moral em vários estabelecimentos da capital, regressou à JUC, desta feita como adjunto do assistente diocesano, o padre Reis Rodrigues, futuro bispo auxiliar de Lisboa e um dos prelados mais influentes da igreja portuguesa.
Biólogo e pianista
Em 1964, participou no primeiro Curso de Cristandade, movimento que nunca mais deixou de acompanhar. Nomeado assistente adjunto do Corpo Nacional de Escutas, voltou à universidade para se licenciar em Biologia, após o que ensinou na faculdade de Ciências de Lisboa, na cadeira de História e Filosofia das Ciências. No 25 de Abril ainda estava na JUC e foi com manifesta felicidade que celebrou a queda da ditadura.
Homem extremamente culto, sempre atento ao diálogo entre a fé cristã e a ciência, cultivava o gosto pela música erudita e nunca deixou de ter um bom piano em casa, que fazia as suas delícias.
Em 1984, o cardeal patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, nomeou-o pároco de Campolide, onde esteve 14 anos. Seguiu-se durante sete anos a paróquia de S. Mamede e, por fim, a paróquia de Lapa-Estrela. Foi já o cardeal patriarca D. José Policarpo quem o nomeou cónego.
Por convite do então ministro da Educação, Roberto Carneiro, criou e esteve à frente do Secretariado Entre Culturas. Projeto ambicioso de dinamização intercultural no âmbito das escolas portuguesas, foi muito elogiado pela UNESCO. Mais tarde, criou o "Religare", a designação da Estrutura de Missão para o Diálogo com as Religiões.
Padecendo de vários problemas conjugados de saúde, faleceu no sábado, 29, com 83 anos.
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