Relâmpagos e trovões

JOSÉ MARIA C.S.ANDRÉ        20-11-16
CORREIO DOS AÇORES   /   VERDADEIRO OLHAR   /  ABC  PORTUGUESE CANADIAN NEWSPAPER, SPE DEUS, CLARIM


Passámos toda a semana a ouvir declarações inflamadas contra a Dra. Maria José Vilaça. Desta vez, foi contra ela, mas efervescências parecidas ocorrem regularmente contra várias pessoas. De repente, explode a ira colectiva com uma agressividade inesperada e, principalmente, uma desproporção aparente entre o efeito e o motivo inicial. Mas a explosão é violentíssima. Dá a impressão de que há um mal-estar na nossa sociedade, um sofrimento latente, que se liberta como uma bomba devastadora.

Há tempos, foi a Isabel Jonet, noutra altura foi a Madre Teresa de Calcutá, agora tocou a vez à Maria José Vilaça. Será que as vítimas femininas atraem especialmente os excessos? O que é certo é que as tempestades não foram pequenas!

A Isabel Jonet, a quem o país deve tantas mobilizações extraordinárias de solidariedade, como o Banco Alimentar, opinou que todos devíamos cultivar a sobriedade e contribuir para vencer as dificuldades... Foi o que se viu, de indignação! Durante semanas!

Sobre a Madre Teresa de Calcutá, heróica até ao extremo para ajudar os pobres, canonizada recentemente pelo Papa Francisco, o «Sexualpedagogik», principal jornal dos abortistas norte-americanos, escreveu: «Esta pessoa bem-sucedida na vida e murcha, que não parece uma mulher, especialmente quando ergue os seus punhos cerrados a rezar por nós, (...) tornou-se um símbolo de tudo o que a maternidade e a feminidade têm de mau, uma imagem que rejeitamos absolutamente. És o pesadelo das mulheres! Roubas a liberdade – escravizas! – as mulheres, as mães, as freiras e as tias; porque é que te metes connosco, que decidimos assumir o controlo dos nossos corpos, das nossas crianças e do nosso destino?».

Os exemplos poderiam multiplicar-se. Qual a razão de algumas mulheres serem rejeitadas de forma tão violenta por certos grupos ideológicos, em particular feministas?

A Dra. Maria José Vilaça gasta os seus dias a ajudar pessoas que sofrem, com enorme generosidade e – vale a pena acrescentar – com grande eficácia profissional. Merecia talvez uma homenagem, mas a história recente é-nos recordada todos os dias pelos meios de comunicação social: cometeu o crime de dizer que os pais deviam acolher e estimar os filhos com tendência homossexual como acolhem todos os outros, independentemente de viverem numa situação que não é boa.

Que alguma militância sonhe com o triunfo do seu despotismo iluminado, compreende-se. Que os ecos deste fervor ideológico ecoem semanas a fio em tantas notícias e tantos artigos de opinião, deixa-me perplexo.

Alguns pais vivem triturados pelo remorso de terem abortado um filho? Não queremos ouvir! Algumas pessoas com tendência homossexual pedem ajuda? Proíbe-se! A revolução ideológica decretou que o aborto é um alívio, a homossexualidade uma glória, o divórcio uma libertação... como é que ainda há românticos a suspirar por um amor verdadeiro, fiel até ao sacrifício? Pior ainda, como é que há gente arrependida de algum passo em falso que deu na vida?

Faz pena que a revolução politicamente correcta não compreenda que o arrependimento nos salva. A humildade de reconhecer o erro e aceitar ajuda purifica.

O Papa Francisco passou o Ano da Misericórdia, que termina hoje, a recordar que Deus perdoa sempre, é fiel sempre. A sua misericórdia não tem fim. Alegra-se mais por um pecador que se arrepende do que por 99 justos que não precisam de se arrepender. Deus não pergunta se somos super-homens, espera-nos de braços abertos, como o pai do filho pródigo.

A mensagem da misericórdia é também uma mensagem de humildade. Servir os outros não é considerar-se puro e estender uma mão simpática aos desgraçados que nos rodeiam. A mensagem do Ano da Misericórdia é reconhecermo-nos cheios de fragilidade e abrirmos o coração para que os outros nos enriqueçam e nós os possamos ajudar naquilo que precisarem. O Papa insiste em que um grande objectivo deste Ano da Misericórdia era cada um fazer uma boa confissão. Agora, o Jubileu acabou, mas estamos a tempo. Deus é fiel e perdoa sempre.

Mesmo que não estejamos contentes com alguma coisa que aconteceu na nossa vida, Deus quer transformar o nosso remorso na alegria de ter sido perdoados.


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