INÊS DIAS DA SILVA RIVISTA TRACCE e WWW.REVISTAPASSOS.PT 09.11.16
Caros amigos,
Gostaria de vos contar da morte do meu pai. O Pedro Aguiar Pinto, como se chamava, foi toda a vida professor universitário de agronomia, foi responsável diocesano do CL em Portugal durante vários anos, mantinha uma newsletter e um blog com os temas da nossa fé e, com a minha mãe, formaram centenas de casais em preparação para o matrimonio, promoveram escolas de comunidade, pertenciam a uma fraternidade que sempre acolheu quem precisou de companhia e todos os anos, organizava a peregrinação anual do movimento a Fátima. Foi na peregrinação no passado mês de Outubro, numa noite em que havia pouco espaço para todos dormirem, que decidiu ir dormir a uma casa nossa no campo perto do local onde estavam, e aí morreu de coração, aos 61 anos, nos braços de um grande amigo e fraterno e numa casa que viu a nossa família crescer e amadurecer. Queria-vos contar que estes e outros sinais da preferência do Senhor pelo meu pai e a nossa família têm sido tão claros, que nos salvam. Entre a vida difícil de um filho nosso com uma doença rara que vive grande parte do seu tempo no hospital, e um cancro que surgiu à minha mãe há dois anos, as nossas preocupações de saúde não estavam centradas no pai, e a sua morte inesperada e repentina deixou-nos perplexos, mas certos de que a vida é ganha quando é entregue ao Senhor; e amigos, como isto liberta do medo da morte! Nada nem ninguém nos pode ser roubado, se já é nosso na eternidade.
A disponibilidade dos meus pais para a construção do Reino de Deus aqui na terra foi sempre banal para mim, pois sempre os vi fazer assim. Mas aquilo que era para mim banal revelou na hora da sua morte uma superabundância que só pode vir da vida consumida por amor a Cristo. O alcance da sua relação com tantas pessoas que eu não conhecia e que se cruzaram com ele ou na Universidade, ou no Movimento ou apenas no destinatário anónimo de uma newsletter por email, mostrou-se pautada por uma paternidade que eu julgava que era só minha. Para mim, o sentimento predominante na morte do meu pai não foi de orfandade, mas de ter ganho mais irmãos. "Não me conhece, mas o seu pai foi o professor que mais me ensinou", "Não me conhece, sou uma leitora assídua do seu pai, e rezo por vós", são só alguns exemplos de pessoas que vieram ter comigo nos dias de velório à procura de consolo, numa comunhão de gente unida apenas pela relação com o pai de todos. Percebo melhor hoje, o que é a Igreja e como nasceu, e renasce ainda hoje, do sangue oferecido dos santos. E digo hoje com mais propriedade: Pai Nosso...
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