O Anjo da Guarda
LUIS MIGUEL CORTES MARTINS 16.11.16
Por relações familiares próximas conheci o Pedro Aguiar Pinto em meados dos anos 70 do século passado. Eu jovem estudante do Liceu de Santarém e o Pedro já um promissor assistente de Agronomia.
Tinha casado há pouco tempo com a Minhoca, era do Porto, e como era já professor era considerado um crânio que havia que conhecer.
Assim, foram várias as "tertúlias ribatejanas" que se reuniram com esse propósito, e em que o Pedro, naturalmente, participava. Logo percebemos que se tratava, como nós dizemos ali na campina, de um "tipo porreiríssimo". Assim como nós mas em melhor!
Logo nessa altura impressionou-me a tranquilidade e sobretudo a bondade do Pedro. Reagia serenamente às discussões ( coisa que os que me conhecem sabem que eu não sou capaz de fazer), mas sobretudo defendia sempre o ponto de vista do mais fraco. E como era mais velho e mais inteligente do que nós acabava invariavelmente a dar-nos salutares "lições de Moral". Todos percebemos, pelo menos eu percebi, que tínhamos pela frente uma pessoa de raras qualidades.
Depois o Pedro foi fazer o doutoramento, esteve vários anos nos EUA, e perdemos um pouco o contacto.
Quando voltou já existia a Inês e creio que a Leonor. E aí começou um percurso de admiração pela forma desassombrada, e ao mesmo tempo tranquila, com que aceitava a doença da Leonor ( como mais tarde aceitou a da Constança) parecendo achar tudo mais do que normal.
Com o tempo e a idade fomos-nos aproximando mais e, pela minha parte, com mais maturidade, aprendi a ver no Pedro um magnífico exemplo de Santidade.
Tempos mais tarde a Minhoca e o Pedro desafiaram-nos para os cursos de noivos que a Malila e eu durante tantos anos acompanhámos. Sob a mão firme do P. João claro. E essa experiência de amizade na Fé, de crescimento no amor de Cristo transformou-nos muito. E reconhecemos já aí o Pedro Santo que continuou depois como que a "decantar".
O Pedro organizava, o Pedro orientava, o Pedro dirigia, o Pedro sabia os nomes de todos. E de forma serena ia explicando o que devíamos e o que não devíamos fazer. Para bem de todos, especialmente dos noivos!
As experiências multiplicaram-se ( retiros, idas a pé a Fátima, fins de semana do Cl....) e a minha admiração pelo Pedro crescia cada vez mais.
Não que ele impusesse no que quer que fosse. Mas era natural. Era a natureza das coisas a manifestar-se! Mais recentemente lembro-me de uma Peregrinação à Terra Santa. A Minhoca, para acompanhar o neto doente não foi, e o Pedro foi sozinho. Sem nostalgia, sem aparente tristeza e com total disponibilidade para todos e cada um de nós!
Estava sempre no sítio certo. Tinha sempre a palavra adequada. Fazia-nos companhia nos momentos mais difíceis. Nós olhávamos e o Pedro estava lá. Sempre!
Tenho pensado muito nisso neste último mês e não consigo deixar de dizer que o Pedro era o nosso (e naturalmente o meu) Anjo da Guarda! Sim - definitivamente o Anjo da Guarda. Não só da sua Família mas de todos os seus amigos. O fiel escudeiro que Jesus pôs no nosso caminho.
E depois dessa viagem outras vezes nos cruzámos e o Pedro tinha sempre a serena e certa palavra para cada momento.
Tudo fez, tudo aceitou. Até ao fim.
Claro que não posso declará-lo, nem me compete ir por caminhos para onde não sou chamado. Mas não conheço muitas pessoas que tenham gasto a vida a viver uma Santidade tão patente. Nós lemos as bem aventuranças e o Pedro está em todas.
Quando ele partiu repentinamente para o Pai, passado o choque inicial, e o legítimo desgosto da separação, tive, e tenho, o conforto de o ver no Céu! Sim, todos sabemos que lá estará. Tanto quanto a nossa humana avaliação permite perceber.
Por isso dou Graças a Deus por ter tido um Anjo da Guarda presente na minha vida durante tantos anos. E saber que temos um amigo no Céu é uma alegria e um privilégio que acho que nem percebo bem.
Obrigado Pedro. Reze por nós. E que vida tão bonita!
Luis Miguel
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