Black Fidel

PAULO NÚNCIO   29.11.16  ECO.PT
Fidel Castro morreu na passada 6ª feira. Paz à sua alma. Mas não deixa de ser irónico que o ditador que mais combateu o Ocidente tenha morrido precisamente numa Black Friday. Ironias à parte, Fidel Castro representou mais um capítulo do extenso livro negro do comunismo no mundo. Desde Lenine a Estaline, passando por Mao, Ho Chi Minh, Kim Il Sung e Pol Pot, o comunismo representou uma tragédia de dimensões planetárias.
Como constatou o historiador e investigador Nicolas Werth no seu livro, a abertura de numerosos arquivos e o acesso a muita documentação, depois do desmoronamento da União Soviética, permitem hoje afirmar que o comunismo representou a doutrina do Estado todo-poderoso, a descriminação sistemática de grupos sociais, as deportações em massa e, com demasiada frequência, os massacres gigantescos que levaram à morte de dezenas de milhões de seres humanos.
E o que é que Fidel Castro tem a ver com esta tragédia? Infelizmente, o “totalitarismo tropical” de Cuba é uma parte integrante do mundo comunista. E a natureza totalitária do regime tem respaldo nas frases atribuídas ao próprio Fidel. A começar pelo sistema de partido único e na supressão das liberdades individuais e políticas (“Eleições! Para quê?”, 1959), nos tribunais populares, criados exclusivamente para pronunciar condenações, em que o ditador intervinha pessoalmente (“Eu digo-lhes. Escolham: é Matos ou eu”, 1959), a acabar na repressão do mundo artístico (“Dentro da revolução tudo, fora dela nada!”, 1961).
Mas o legado do castrismo é muito mais profundo e sangrento. Um rasto de repressão, perseguições, execuções e fuzilamentos, presos políticos e de opinião, tortura e campos de trabalho, todos associados a lugares, datas, factos, carrascos e vítimas concretas.
Numa época em que os radicalismos políticos estão, e bem, debaixo de todos as críticas e preocupações, o comunismo vai passando pelos “pingos da chuva”. Por detrás de um ideal de emancipação e de criação do “Homem-Novo”, os regimes comunistas praticaram atrocidades contra os direitos humanos que continuam hoje, em pleno século XXI, a ser propositadamente esquecidas.
O último exemplo gritante deste branqueamento da história foi dado por Jerónimo de Sousa que, depois da morte de Fidel Castro, declarou que “o PCP presta homenagem à sua excecional figura de patriota e de revolucionário comunista evocando o exemplo de uma vida inteiramente consagrada aos ideais da liberdade, da paz e do socialismo”
Para além da cegueira ideológica e da amnésia voluntária, esta afirmação ofende a memória dos cubanos perseguidos, torturados e executados pelo regime comunista de Fidel. Mas, sobretudo, esta afirmação corporiza um discurso radical e populista contra os valores democráticos que todos dizemos defender. Que, como todos os radicalismos, deve merecer a nossa maior preocupação.

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