Irmã Guadalupe aos jovens
TERESA LÍBANO MONTEIRO 25.11.16
"Parte de Aleppo pode não existir mais até o Natal"
Updated 2149 GMT (0549 HKT) November 24,
2016
Foto de ontem que podem ver na CNN o vídeo
"Caríssimos,Não pude ficar indiferente a esta realidade que felizmente ainda não nos tocou mas que a todos pode bater à porta: viver na Guerra sendo cristão sem ter a ajuda do Mundo para a travar (sobretudo por razões económicas), pelo que para os que não puderam assistir ao Testemunho da irmã Guadalupe, seguem os meus apontamentos em anexo, tendo também pesquisado sobre o que a nossa comunicação social, a brasileira, a europeia e a norte-americana referem sobre esta Guerra que acrescentei de seguida.Como pediu a irmã Guadalupe, fi-lo para poder divulgar esta realidade da Guerra aos que a desconhecem, onde o povo civil de Alepo está completamente ao abandono, tentando dar Voz àqueles que não a têm, começando pelo sítio onde trabalho ao qual agradeço a oportunidade de a ter podido escutar, pedindo que rezem por estes nossos irmãos que vivem em condições inimagináveis para nós, para que lhes chegue a tempo a comida, água, luz, gás e finalmente a paz!
Teresa Líbano Monteiro
Testemunho da Irmã Maria de Guadalupe argentina que veio ao CST, a 23 Nov 2016, partilhar com os nossos jovens,
os 5 anos de Guerra em Alepo, na Síria (2011-2016)
Na sua juventude a irmã queria casar e ter filhos mas aos
18 anos quando entrou no 1º ano da Faculdade de Economia percebeu que Deus a
chamava completamente à vida religiosa e para sempre, era feliz. Hoje com 25
anos de vida religiosa, apesar de já ter sofrido duras dificuldades e muitas provas,
continua feliz. É da Congregação Missionária do Verbo Encarnado e com 23 anos foi
enviada por esta congregação para o Médio Oriente e Norte África. Hoje a irmã
Guadalupe tem 43 anos, portanto 20 anos de Missão!
No início da sua missão a irmã foi para Belém (terra onde Jesus nasceu) estudar
o idioma: o árabe (muito difícil), depois foi enviada para o Egipto e depois para a Síria, para a maior e 2ª cidade mais
importante (1º Damasco) deste país: Alepo,
sendo dos 3 locais aquele que mais gostou, pois a cidade era muito bonita e havia
uma calma, passividade entre religiões, os muçulmanos e os cristãos eram amigos
uns dos outros, havia muito boa convivência entre as pessoas, o que a
agradou bastante, ao contrário do que tinha presenciado nos 2 sítios
anteriores.
Depois de 12 anos em Missão, a irmã estava um pouco debilitada
em termos de saúde e esgotada em termos de responsabilidades nesta congregação
missionária, percorrera 3 sítios diferentes e pediu aos seus Superiores no
final de 2010 para ir descansar para aquela cidade pacífica: Alepo, tendo estes concordado, pelo
que em Janeiro de 2011 a irmã foi para lá, mal sabendo que a Guerra (esta realidade é bem diferente
daquela que o cinema nos mostra) começara, naquela tranquila cidade, em Março de 2011, bem como as Perseguições aos Cristãos…
Fisicamente a irmã não estava preparada para a Guerra:
primeiro porque tinha uma saúde débil, segundo porque tinha medo: achava que as
suas forças humanas não seriam suficientemente capazes para viver em guerra, porque
media segundo os seus cálculos, sem saber o que Deus queria efetivamente dela…
Depois da sua congregação se unir e rezar sobre o que
fazer naquela situação: ficar na Guerra, ou partir da Guerra, decidiram permanecer
em Alepo, desde que as suas famílias nucleares dessem o consentimento. Ela
telefonou aos pais dela (e aos seus 4 irmãos casados e com filhos- tem 16
sobrinhos) a perguntar se achavam bem. O pai dela respondeu: “Vais abandonar essas famílias agora,
quando elas, mais do que nunca, precisam de ti? O que é a vida de um
missionário senão dar a vida pelos outros? Só se dá a vida quando é fácil? Tens
de aí estar, ajudando os que de ti necessitam, pois Deus te protegerá mais
nesse lugar do que em qualquer outro!”
Alepo tem 5 milhões de habitantes e antes da guerra era
uma cidade muito bela e próspera, com gente muito rica, que tinha tudo: era
normal cada família ter em casa, 1 a 3 filipinas que auxiliavam na vida
doméstica: lavar, passar, arrumar, cozinhar, pois o casal tinha de trabalhar e
de ter uma vida social intensa: festas e eventos. Portanto a sociedade era
constituída por famílias cultas e com bastantes posses económicas: “pessoas
que tinham tudo e que com a vinda da Guerra perderam tudo… Quem é pobre já está
habituado a viver com pouco, agora quem é rico e de um momento para o outro, fica
sem nada, começa a dar bastante valor ao que tinha e perdeu e que antigamente
não ligava ou pouca importância dava…”
Os terroristas bloquearam as entradas e as saídas da
cidade, pelo que começou a haver falta de combustível: deixando os carros de
andar, falta de gaz: deixando as pessoas de poder cozinhar, cortaram a água:
que vinha de 10 em 10 dias e a eletricidade: só 1 ou 2 horas por dia… Comiam
enlatados e num ano apenas arroz, passaram muita fome…
Em 2011 começaram as perseguições aos cristãos: morte por
decapitação, colocando as cabeças expostas na praça central da cidade, com o
objetivo de os demover da sua religião, para se converterem ao islamismo… “Muitos cristãos se tornam mártires, pois a
morte do corpo não é definitiva, perdem o corpo mas ganham a eternidade! Se
negam a sua religião/Cristo, como podem chegar ao céu? Quem perde tudo, chora e
tem bastante sofrimento mas sabe que não lhe podem tirar o céu! Agarram-se
ainda mais a Deus, não o culpam. Sorriem porque cresceram na fé, a única
luta que vale a pena é contra o pecado: o que verdadeiramente arruína/destrói a
alma. Um Sr. disse-me: “Nós necessitávamos desta grande prova, o
nosso cristianismo estava demasiado distraído com as coisas do mundo”.
Imaginem estar 2 semanas sem luz e quando esta chega torna-se emocionante mesmo que por
apenas 2 horas, pois normalmente a luz vem durante a noite: ÁAAAH! (reação de
admiração- festa durante 5 min), como se estivéssemos num estádio de futebol e
tivessem marcado um goolo!
Imaginem o frio
que entra nos nossos ossos durante o Inverno, chegam a estar 0 graus ou no Verão
o calor que faz: 47 a 50 graus, onde
a água que poupamos, aquece com estas altas temperaturas e se experimentarem
beber água quente, a mesma não tira a sede…
Há que
desfrutar das pequenas coisas do dia-a-dia, aproveitando-o como se fosse o
último! Como quero viver? Estão preparados/prontos para morrer? Ali estamos sempre preparados para ir para o céu!
Hoje há crianças do 1º Ano com 6 anos que vão todos os
dias à escola mas que fazem percursos perigosos escapando às balas, fazendo à
noite os deveres com uma lanterna porque não há eletricidade e de manhã levantam-se
para irem novamente para a escola, mas vão felizes. Despedem-se sempre dos
pais, pois nenhum deles sabe se regressa a casa…
Quando a guerra começou, durante 1 ano os colégios e as
universidades fecharam/encerraram mas as crianças e os jovens pediram para abrirem
mesmo naquela situação de guerra para que eles pudessem continuar a estudar: “Queremos continuar a estudar, quando
sabemos que irá terminar esta guerra? Vamos ficar sentados à espera que acabe,
quanto tempo?”
Então abriram as escolas e as universidades e no 1º dia,
no recomeço das aulas, todos estavam muito contentes, mesmo quando não ouviam
bem, sendo difícil escutar o que os professores diziam, por causa do barulho e
ruído ensurdecedor dos bombardeamentos…
Há estudantes de todos os cursos, mesmo de medicina e
quando há no terreno terroristas são avisados para se irem esconder, com pouco
tempo para fugirem, mas há quem se preocupe em ir buscar correndo, a mochila
com os apontamentos, para o exame no dia seguinte, pois se sobreviverem querem ir
fazê-lo e passar nesse exame!
Estes jovens são
uma fortaleza, esta força vem-lhes da fé, pois mesmo com sofrimento, vão
vivendo a sua vida com o que realmente importa, com renúncia de muita coisa, mas
com uma intensidade que desarma, a sua vida não é fácil mas esta fá-los fortes!
A vida
fácil, não nos faz fortes… Estes jovens
sírios são privilegiados porque já têm assegurado o céu! Os outros jovens,
nós não sabemos.
Dirigindo-se aos nossos jovens do CST, disse-lhes para pensarem
no seguinte:
-O que aprendi com o que ouvi?
-Valorizo o que tenho?
-Vivo cada dia como se fosse o último?
-Estou preparado para a morte e para ir para o Céu? Isto
é a única coisa que é importante!
Os cristãos
sírios sofrem com a guerra, mas sorriem mais do que antes, porque o contacto
tão próximo com a morte, faz com que a sua vida tome outro sentido e a vivam plenamente!
Pediu a todos:
1-Rezem pelos cristãos perseguidos, nossos irmãos.
2-Difundam esta realidade que a maior parte do mundo
desconhece.
3-Colaborem com: - Amigos do Iraque; - Nazarenos
perseguidos; -
A irmã Guadalupe terminou com uma Oração à Virgem Maria
cantada em árabe.
Apontamentos
de Teresa Líbano Monteiro
Alepo: os
números da guerra
PÚBLICO
4 de Outubro de 2016, 19:42
Embora a
chamada “batalha por Alepo” só tenha oficialmente começado em Julho de 2012, a
cidade está debaixo de fogo há cinco
anos, desde que começou a insurreição contra o regime do Presidente Bashar
al-Assad na Síria. O grau de destruição da cidade foi designado como
“catastrófico”,
Só na
última semana de Setembro, foram mortas 96 crianças em bombardeamentos,
de acordo com os registos da Unicef. Na semana anterior, 38 das 327 vítimas
mortais foram crianças, mostram os números do Observatório Sírio dos Direitos
Humanos. Segundo a organização Save the Children, metade dos feridos que chegam aos hospitais e outros centros de
tratamento da zona Leste da cidade são
crianças.
Num
único dia da semana passada, foram contados 250 ataques aéreos sobre
Alepo. Em Agosto, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos contou o número
recorde de 80 dias
consecutivos de bombardeamentos sobre vários bairros da cidade.
Ninguém
tem a certeza de quantas pessoas estão cercadas nos bairros dominados pela
oposição em Alepo, e que não só estão
impedidas de fugir como não conseguem ter acesso a bens essenciais e ajuda
vinda do exterior. Estima-se que sejam pelo menos 200 mil, mas é plausível
que possam ser 300 mil.
Calcula-se também que 40% desses
habitantes sejam crianças.
Nos
últimos cinco anos, a guerra em
Alepo matou 470 mil pessoas.
"Parte de Aleppo pode não existir mais até o Natal"
25
NOV2016
TERRA BRASIL
Enviado especial da ONU afirma
que regime de Assad intensificou bombardeios na área leste da cidade, que está
sitiada. Segundo voluntários, moradores estão a dez dias da inanição.Após uma
visita a Damasco, o enviado especial da ONU à Síria, Staffan de Mistura, mostrou-se "muito preocupado" com o
futuro do leste de Aleppo. Em entrevista publicada nesta sexta-feira (25/11)
pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o diplomata diz que, se o ritmo de
bombardeios for mantido, "então não haverá mais leste de Aleppo até o
Natal". Acredita-se que 225 mil pessoas ainda vivam no local.
De Mistura
afirmou ter a impressão de que o governo intensificou suas atividades militares
na cidade, cujo controle está dividido entre rebeldes e forças do regime de
Bashar al-Assad. Ele passou o fim de semana na capital síria para tentar um
acordo de cessar-fogo com o governo - sem sucesso.
Segundo ele,
as tropas do presidente sírio só conseguiriam recuperar o leste de Aleppo se a
área estiver "quase destruído". Neste caso, dezenas de milhares de
refugiados confluiriam em direção à Turquia, alertou De Mistura.
Segundo os
chamados "capacetes brancos", grupo de voluntários que atua no
resgate de feridos em Aleppo, os residentes da parte sitiada da cidade estão a
dez dias da inanição.
Risco de
guerrilhas
De Mistura
disse ainda que, caso nenhuma solução política seja encontrada, há riscos de
que os próximos anos sejam marcados por guerrilhas nas áreas rurais e
carros-bomba nas cidades. Segundo ele, "ninguém, nem mesmo a Rússia",
deseja tal situação. A Rússia, ao lado do Irã, é uma das principais apoiadoras
do presidente sírio.
"É por
isso que acreditamos que precisa haver um compromisso para o leste de
Aleppo", afirmou. De Mistura disse ainda que uma vitória definitiva contra
grupos terroristas como o "Estado Islâmico" (EI) e a Frente al-Nusra
só será possível quando houver uma "solução política inclusiva" na
Síria.
Para ele,
recuperar Aleppo oriental ou Raqqa não significa o fim do "EI".
"Nós vimos isso no Iraque. Se não há uma abordagem política inclusiva,
tais grupos vão brotar de novo mais tarde como cogumelos, movidos pela
marginalização dos sunitas e sua sensação de exclusão", avaliou.
De Mistura
também disse acreditar que a Rússia não deseja ser responsabilizada pela
destruição no leste de Aleppo e pediu novamente a Moscou que reafirme sua
influência em Damasco. Para ele, os comentários feitos em campanha pelo
presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de que acabaria com o apoio
aos rebeles, serviram para encorajar o regime de Assad.
O diplomata
salienta, no entanto, que qualquer presidente americano vai enfrentar pressão
pública e indignação se a situação terminar em tragédia.
"O
presidente Obama... e o secretário de Estado John Kerry têm bastante motivos
para pôr um fim à maior tragédia humanitária deste século e que aconteceu
durante os seus mandatos. Estamos falando do legado deles", disse.
SÍRIA Euronews
25 nov 2016
Pelo menos 32 pessoas foram mortas nos
bombardeamentos com aviões e helicópteros militares nos subúrbios orientais da
cidade de Aleppo, no norte da Síria, sitiada pelo exército e retaliados pela
oposição.
Entre os mortos estão pelo menos cinco
menores e três mulheres. Os ataques aéreos e de artilharia visam os distritos
do governo, nomeadamente Tariq al Bab, Masaken Hanano, Al Misir, Bustan
al-Basha, Karam Bek, Al Sajur, Al Shaar, Al Muasalat velhos, Al Yazmati, Bab
Neirab e Al Qataryi.
A luta continua entre tropas
governamentais e rebeldes e facções islâmicas em Masaken Hanano, onde as autoridades
têm feito progressos e retomaram grandes partes do território.
Enquanto isso, quatro famílias
conseguiram deixar a zona oriental de Aleppo desde ontem e atingiram o distrito
de Shaykh Maqsud, sob o domínio de forças sírias Democráticas (FSD), uma aliança armada curda-Arabe, segundo o Observatório
dos direitos humanos.
Este organismo, informou que facções da
oposição tinham impedido a passagem de civis que queriam fugir da parte
oriental do bairro predominantemente curdo.
Nos últimos dez dias, pelo menos 287
pessoas, incluindo 32 crianças e 9 mulheres, morreram na cidade. Pelo menos 165
eram civis.
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