Isto é o amor: uma maravilhosa injustiça


TESTEMUNHO  DE ENRICO PETRILLO NO JUBILEU DOS DOENTES   12.11.16




Chamo-me Enrico, sou o pai de Francesco e de outros dois filhos que estão no céu e que nasceram antes dele, Maria e Davide.  A minha mulher Chiara, está no céu junto deles. Sou, por isso, viúvo há quatro anos. O Francesco tinha completado há pouco um ano. No entanto a minha história é belíssima. Porque a doença e a morte não tiveram a última palavra. Não tiveram o poder de nos fazer crer que o que estava a acontecer fosse uma desgraça. Vivemos a experiência do calvário com o Senhor. Fomos consolados por um Deus que esteve sempre connosco. Sentimo-nos sempre amados. O Senhor deu-nos dois filhos especiais para acompanhar à porta do paraíso. E vimo-los adormecer e passar dos nossos braços para o colo do Pai. Pensámos: Onde está a desgraça? Nasceram prontos! 

Tínhamos a santa certeza no coração que fosse uma graça, tudo o que estava a acontecer. 

Vislumbrámos o Senhor na lógica fora de esquema da vida na morte e da injustiça do amor. Não se enganem, o amor é uma injustiça. Experimentei que para dar lugar à graça é mesmo preciso acolher esta lógica injusta do amor, que não só dá como tira. 

É justo que eu seja viúvo?
É justo que o Francesco não tenha a sua mãe?
É justo ser doente?
É justo ser deficiente?
É justo que o filho de Deus tenha morrido na cruz?

Não, não é justo.
Mas isto é o amor: uma maravilhosa injustiça.

É o Jubileu da misericórdia, não da justiça. 

Só um pai se deixa morrer pelos seus filhos. 
Só um pai sabe amar assim.
Disseram referindo-se à doença de Chiara: um tumor, não há mais nada a fazer. Provavelmente dirão-no a muitos de nós. Não acreditem. Haverá muito a fazer. É o momento para se prepararem para o encontro com o Pai.

Chiara e eu desejámos esperar o esposo com as lâmpadas acesas. Desejámos vestir a veste mais bela. Por isso Chiara agora está vestida de esposa.  Vivemos juntos com o frei Vito, o nosso pai espiritual, alguns meses na espera por este encontro. Celebrámos as missas mais bonitas, tomamos o Seu corpo, adorámo-Lo, confessámo-nos, pedimos todas as graças, incluindo a da cura física, que como sabeis, não chegou. Tínhamos, no entanto, a certeza que deveria ser algo bem maior que uma hipotética cura física. O que é que pode ser maior que uma cura física? A salvação. A salvação é mais importante. 

Era a noite de 12 de Junho de há 4 anos atrás, quando celebrámos a última missa juntamente com a Chiara. O Evangelho dizia ‘Vós sois a luz do mundo e o sal da terra”. A Chiara estava belíssima, estava luminosa, estava feliz. Despediu-se dizendo ‘Quero-vos bem a todos’. Estava feliz por ter vivido uma vida plena e incrível, estava feliz por ter amado. É belo consumir-se com uma vela que chega ao seu fim. Havia tempo que ressoava no meu coração esta frase do Evangelho: Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mateus 11,30). Mas enquanto via o corpo de Chiara consumir-se, não conseguia acolher esta suavidade. Então perguntei à Chiara, era cerca das 7 da sua última manhã, estava diante do tabernáculo e perguntei-lhe: 

- Chiara? É verdadeiramente suave esta cruz, como diz o Senhor? Ela sorriu e com um fio de voz respondeu-me. 
- Sim, Enrico, é muito suave. 

Esta suavidade era para ela e não para mim. Era ela que estava a morrer, não eu. O Senhor, de facto, dá a graça no momento certo. E assim vi-a morrer feliz. Sabia muito bem para onde ia. Irmãos, podemos morrer felizes também nós se dermos espaço à sua graça. Talvez uma das mensagens mais belas que o Rei da História quis transmitir com a vida da Chiara é que Ele não é um mentiroso. O Senhor não é um mentiroso. Este jugo é muito suave. Confiai que vale a pena. Bom caminho a todos!

(tradução livre que aguarda revisão)

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