Que(m) esperamos?

Pe VíTOR GONÇALVES    27.11.16


DOMINGO I DO ADVENTO Ano A


“Vigiai, porque não sabeis 
em que dia virá o vosso Senhor.”
Mt 24, 42



Sabemos que há diferentes tipos de espera. A espera do autocarro que nunca mais vem e a de um amigo que começamos a preparar horas antes; a espera por um exame a fazer e a de um bebé ansiosamente aguardada. Esperamos com paciência e gozo antecipado, ou com nervosismo e indignação pelo mais pequeno atraso. E como a sabedoria popular gosta de contemplar todas as hipóteses, lá nos dividimos entre o que “quem espera, desespera” e o “quem espera, sempre alcança”! Mas existe uma diferença entre a espera passiva de quem cruza os braços para receber o futuro e a de quem tudo prepara e caminha para ir ao seu encontro. É a esta que podemos dar o nome de esperança!
Escutando alguns professores meus amigos, sofro com eles a falta de esperança que testemunham em muitos dos seus adolescentes e jovens alunos. Aumenta nos mais novos a febre do imediato, o dia a dia sem grandes sonhos, a falta de imaginação e de raciocínio que distingue heróis de ídolos, a espera de que tudo “apareça feito” ou se faça “sem muito esforço”. O mais doloroso ainda é o desânimo que muitos dos educadores acumulam pelo seu estatuto de “air-bags” entre a burocratização do ensino e a demissão/híper-protecção dos pais. Que esperança para a escola? Que esperança para as famílias? Não é ficando “à espera” uns dos outros que ela se pode renovar!
Israel alimentou a esperança de um Messias durante muito tempo. Um rei, um guerreiro, um líder que reconstruísse a sua glória e estabelecesse a paz. Que pudesse contar com todos, mas, se fosse suficientemente poderoso para fazer o mais difícil sozinho, melhor ainda. “Dava tanto jeito que não tivéssemos de ser nós a esforçar-nos e a desinstalar-nos dos nossos privilégios”, pensariam alguns. Daí que Jesus não tenha encaixado bem nessa “esperança”. Convidou à conversão e à mudança, a perdoar e a amar os inimigos, a ser límpido com Deus e com os outros, a tratar por irmãos a ralé e os estrangeiros, a um culto em espírito e verdade, a dar a vida como Ele. E, em tudo, a sermos responsáveis! Essa substancial diferença da esperança activa, talvez a melhor aprendizagem que a escola e a família podem oferecer.
Entramos de novo em Advento, início dum novo ano litúrgico. Não é um ciclo de eterno retorno, mas a espiral ascendente do tempo cristão, que faz de cada dia o “tempo favorável”, como lembra S. Paulo aos Romanos: “Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé” (13, 11). Talvez seja esta uma palavra de esperança para a assembleia sinodal da Diocese de Lisboa que decorre neste início de Advento. Mas como na escola, no trabalho, na família e na vida, a grande diferença será entre a espera que pode acontecer sem nós e a esperança que irá ter a nossa marca! O que escolhemos?

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